quinta-feira, 4 de outubro de 2007

HOMENS E MULHERES: AO MAR!

O Festival do Rio 2007 está acabando e o NOTÍCIAS DO FRONT também precisa se despedir. Tentamos oferecer aqui, pela primeira vez em nove anos de Festival, informações sobre aquelas preciosidades que talvez passassem despercebidas entre os quase 400 filmes exibidos nos últimos 15 dias em todo o Rio de Janeiro.

A atualização do Blog, feita várias vezes por dia, ficou sob a supervisão direta da equipe da Coordenação Internacional do Festival, cujo trabalho na verdade engloba diversas atividades e começa muitos meses antes do evento, na época de seleção dos filmes, envolvendo a negociação com as distribuidoras, passando pelo cronograma de exibições e de visita dos diretores, até chegar à fase atual de envio das cópias para os próximos festivais mundo afora.

Esperamos que esta iniciativa tenha exposto melhor toda a diversidade de visões sobre o cinema, que é a principal marca do Festival do Rio, sua unidade ao longo dos anos. E quem sabe também tenhamos conseguido esboçar uma estratégia de divulgação que leve o público das próximas edições a querer conhecer diretores estreantes, países de poucas produções, formatos inovadores ou temas esquecidos.

A Coordenação Internacional agradece os cerca de mil visitantes que prestigiaram o NOTÍCIAS DO FRONT e os presenteia com uma nova seleção de filmes para a Repescagem, que começa amanhã e vai até 5ª-feira, dia 11.

Boa pesca!

NA ESTRADA COM O AMANTE DA MINHA MULHER (DRIVING WITH MY WIFE’S LOVER)
De Kim Tai-sik
(Coréia do Sul, 2006)
Sex, 05/10 – Odeon – 17h45
"As surpresas (entre os filmes coreanos) ficam por conta dos debutantes Kim Tai-sik, que realizou Na estrada com o amante da minha mulher, um filme que toca em questões fundamentais como a solidão e a busca pelo amor...". Ver detalhes aqui.


FLORESTA DOS LAMENTOS (THE MOURNING FOREST)
De Naomi Kawase
(Japão, 2007)
Sex, 05/10 – Odeon – 21h30
"O filme ganhou o Grande Prêmio em Cannes este ano e ainda não foi lançado comercialmente, portanto conseguir uma cópia para trazer ao Festival foi um trabalho árduo que durou alguns meses. (...) Não existem dúvidas de que o cinema de Naomi seja um dos mais importantes da contemporaneidade". Ver detalhes aqui.


UMA VELHA AMANTE (UNE VIEILLE MAITRESSE)
De Catherine Breillat
(França, 2007)
Sáb, 06/10 – Odeon – 17h30
Baseado no romance homônimo de Barbey d’Aurevilly. Na mundana Paris do século XIX, só se fala no casamento do jovem libertino Ryno de Marigny com a bela e pura Hermangarde, uma flor da aristocracia. Os noivos se amam, porém as más línguas insinuam que Ryno não vai conseguir romper um antigo romance.


O OUTRO (EL OTRO)
De Ariel Rotter
(Argentina, 2007)
Sáb, 06/10 – Odeon – 19h45
Numa corriqueira viagem de negócios, Juan Desouza descobre que o homem sentado ao seu lado no ônibus está morto. Quase como uma brincadeira, decide não voltar para casa por alguns dias. Juan inventa uma nova identidade, escolhe outra profissão e explora a possibilidade de ser muitos outros. Grande Prêmio do Júri e Urso de Prata de Melhor Ator no Festival de Berlim 2007.


O CASAMENTO DE TUYA (TUYA’S MARRIAGE)
De Wang Quan’na
(China, 2006)
Seg, 08/10 – Odeon – 17h30
Tuya vive de pastorar ovelhas nas planícies da Mongólia para sustentar seu marido doente e os dois filhos. O governo chinês encoraja a população nômade a se instalar nas cidades próximas, e o marido de Tuya insiste que ela vá, a contragosto. Porém, quando se machuca, Tuya passa a considerar um casamento com um homem que possa tomar conta de sua família. Vencedor do Urso de Ouro de Melhor Filme em Berlim 2007.


MORRER EM HEBREO (MORIRSE ESTÁ EM HEBREO)
De Alejandro Springall
(México, 2006)
Seg, 08/10 – Odeon – 19h30
O avô Moishe, patriarca de uma família judia mexicana, morre subitamente. Começam então os sete dias do Shivah, ritual de recolhimento forçado dos familiares mais próximos. Conforme a tradição, ao longo da vida de um judeu dois anjos o acompanham: o da luz e o das trevas. No Shivah, determina-se qual dos dois permanecerá com o defunto.



O CAMINHO DE SAN DIEGO (EL CAMINO DE SAN DIEGO)
De Carlos Sorin
(Argentina, 2006)
Seg, 08/10 – Odeon – 21h30
Desempregado, o jovem Tati arranja dinheiro coletando ramos para um escultor. Um dia, encontra uma raiz de timbó que se parece com seu grande ídolo, Diego Maradona. Tati decide então entregar o achado ao ex-jogador, que se encontra hospitalizado em Buenos Aires. Vencedor do Grande Prêmio do Júri do Festival de San Sebastián 2006.


A CADA UM SEU CINEMA (CHACUN SON CINEMA)
De Vários
(França, 2007)
Qui, 11/10 – Odeon – 21h30
"O Festival do Rio acredita num cinema plural, em que cinematografias vindas de latitudes diversas oferecem pontos de vista diferentes sobre o mundo. ‘Chacun son Cinéma’ nasce a partir de um desejo semelhante..." – Walter Salles. Ver detalhes aqui.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

SONHO ROMENO

O diretor de CALIFORNIA DREAMIN’, o romeno Cristian Nemescu, de apenas 28 anos, faleceu ano passado vítima de um acidente de carro, deixando inacabado este que seria seu primeiro longa-metragem. Seu filme anterior, Marilena From P7, foi selecionado para a Semana da Crítica no Festival de Cannes em 2006 e ganhou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Milão.

Graças também a este histórico, mas principalmente à ambição surpreendente e desestabilizadora de CALIFORNIA DREAMIN’ – e apesar do falecimento precoce do diretor – o filme saiu de Cannes em 2007 com o Prêmio Un Certain Regard, uma mostra que, ironicamente, costuma apontar talentos futuros.

CALIFORNIA DREAMIN se passa em 1999, durante a Guerra de Kosovo. Um trem da OTAN atravessa a Romênia com o objetivo de instalar um radar na fronteira com a Sérvia. O transporte sai sem documentos oficiais, aparentemente por causa da pressa, contando apenas com a aprovação verbal do governo. Logo no início da viagem surge um problema: o trem quebra em uma pequena cidade e o chefe da estação – o gângster local – o impede de continuar. Obrigados a ficar, os americanos irão mudar a vida do vilarejo.

CALIFORNIA DREAMIN’: SEM FIM (CALIFORNIA DREAMIN’: ENDLESS)
De Cristian Nemescu
(Romênia, 2007)
EXPECTATIVA
Qua, 03/10 - Espaço de Cinema 3 - 15h15 (EC387)
Qua, 03/10 - Espaço de Cinema 3 - 23h30 (EC391)
Qui, 04/10 - Est Barra Point 1 - 16h00 (BP154)

Qui, 04/10 - Est Barra Point 1 - 21h00 (BP156)

Encontros O Globo – Especial Festival do Rio

Aconteceu ontem à noite o terceiro e último Encontros O Globo – Especial Festival do Rio, no Auditório do Arte SESC, no Flamengo. O evento apresentou trechos da série televisiva INVISÍVEIS, sobre os maiores problemas que assolam o continente africano atualmente, como a violência sexual e a participação das crianças nas guerras. O filme, que mistura documentário e ficção, foi produzido pelo ator espanhol Javier Barden e realizado por vários diretores, com o apoio da ONG Médicos Sem Fronteiras.

Gravado em 2006, INVISÍVEIS traz cinco pequenas histórias contadas pelos diretores Wim Wenders, Mariano Barroso, Isabel Coixet, Javier Curcuera e Fernando León de Aranoa. Para realizá-las, cada um dos diretores visitou um projeto do MSF na República Centro-Africana, Bolívia, Colômbia, Uganda e República Democrática do Congo. Inicialmente, a série foi feita apenas para a televisão espanhola, mas seu conteúdo acabou despertando o interesse do Festival de Berlim, que a exibiu no ano passado. Desde então, INVISÍVEIS já foi visto por milhares de pessoas em todo o mundo.

Após o filme, seguiu-se um debate sobre o trabalho de médicos em locais de extrema precariedade e a visibilidade que a mídia oferece (ou deixa de oferecer) à questão humanitária. O debate, mediado pelo jornalista de O Globo, Arnaldo Bloch, teve a participação de três integrantes do MSF – um especialista em medicina ambiental, uma psicóloga e a diretora-executiva do Médicos Sem Fronteiras no Brasil, Simone Rocha – e do convidado especial, cineasta Cacá Diegues.

"Essa série (INVISÍVEIS) pode ser comparada ao chamado cinema de periferia que se faz hoje em qualquer lugar do Brasil - até do ponto de vista técnico, porque o cenário é parecido, afinal também somos um país africano. Mas o termo ‘periferia’ é incorreto, porque implica uma espécie de guetificação, e o que este cinema faz é justamente o contrário: ele leva informação de dentro para fora, expande, aproxima. Tenho muito orgulho de ser um cineasta do século XXI, porque acredito que esta seja uma época de transformação não apenas do próprio cinema, mas do mundo através do cinema!” – concluiu Cacá Diegues.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

(DES)CONSTRUINDO MADONNA

A Material Girl talvez esteja muito ocupada se tornando uma diretora de cinema para aceitar o convite de vir ao Festival do Rio (segundo a imprensa do Reino Unido, ela já começou a rodar a comédia de baixo orçamento Filth & Wisdom, e em seguida irá dirigir um filme sobre boxe), mas ao menos em espírito Madonna estará presente, através do filme LIKE A VIRGIN.

Esta produção sul-coreana – onde um jovem travesti obcecado por Madonna luta (literalmente!) para conquistar um prêmio em dinheiro que irá pagar por sua operação de mudança de sexo – foi um dos filmes que mais agradaram ao público no último Festival de Berlim, com a platéia aplaudindo a revelação final da transformação sexual do adolescente. Vale o ingresso apenas para ver sua performance, pós-operação, do sucesso Like a Virgin...

O tom perfeitamente misturado de angústia e admiração do jovem ator Doek-Hwan Ryu impressionou tanto os juizes do South Korean Grand Bell Awards (o Oscar sul-coreano), que eles o premiaram como Melhor Ator Revelação.

Aparentemente, os diretores enviaram uma cópia do filme diretamente para Madonna, mas ela ainda está para tornar públicos os seus sentimentos em relação a este tributo cinematográfico, que faz amanhã sua última exibição no Festival!

LIKE A VIRGIN (CHEONHAJANGSA MADONNA)

De Lee Hae-Young, Lee Hae-Jun

(Coréia do Sul, 2006)
MIDNIGHT
Qua, 03/010 - Est Barra Point 2 - 14h30 (BP249)

MORTE, O FILME

ENTRE OS MORTOS trata de um tema infelizmente tão comum às grandes cidades: a banalidade da morte – em particular, a situação em El Salvador, um dos países mais violentos da América Latina. Ao longo de dez anos de guerra civil, os salvadorenhos tiveram de se acostumar à rotina de tortura e desaparecimentos, e a atitude da população perante a morte parece ser de total indiferença – como se nota pela multiplicação dos serviços funerários como negócios lucrativos. A morte não é mais que um fato cultural, tida ora como solução para problemas financeiros, ora como motivo de reunião familiar, como no Dia dos Santos Defuntos.

Mas o ensejo inicial para o filme se deu de maneira até prosaica: o diretor Jorge Dalton estava necessitando de um carpinteiro, e lhe indicaram um senhor que trabalhava no cemitério da cidade. Quando chegou ao local, porém, Dalton se deparou com toda uma comunidade que desde 1950 vivia do campesinato. “Para ir ao banheiro era preciso passar sobre uma tumba. De fato, as casas de todos os indivíduos foram construídas em cima das tumbas; as crianças jogavam futebol e festejavam aniversários tendo a morte a poucos passos” – lembra o diretor. Dalton passou então a visitar seguidamente o local, até tomar conhecimento de outros temas ligados à morte em todo El Salvador. “Nunca foi minha intenção fazer um filme sobre a morte, e o cemitério é apenas um capítulo da história” – antecipa o diretor.

ENTRE OS MORTOS (ENTRE LOS MUERTOS)
De Jorge Dalton
(El Salvador, 2006)
DOC LATINO
Ter, 02/10 - C.C. Justiça Federal - 20h30
Qui, 04/10 - Espaço de Cinema 1 - 12h15 (EC186)
Qui, 04/10 - Espaço de Cinema 2 - 17h00 (EC282)

O FUTURO DO CINEMA

Segundo longa de Deepak Kumaran Menon, que debutou com o impressionante THE GRAVEL ROAD, o filme DANCING BELLS é mais leve e despretensioso, pontuado pela delicadeza e graça que a nova geração de cineastas malaios tem mostrado nas produções dos últimos anos.

Entre os melhores filmes que figuram no topo da lista dos que mais gostei esse ano, dois foram feitos na Malásia. Para mim, isso é mais do que um prenúncio do surgimento de um novo cinema.

É um país no qual a falta de recursos é tão grande que só permite que sejam realizados filmes com baixíssimos orçamentos. No entanto, seus diretores e produtores não se intimidam com as precárias condições de filmagem, tampouco acreditam que isso mine suas idéias. Ao contrário, a dificuldade parece motivá-los a fazer um cinema poético e extremamente autoral.

Deveria servir de exemplo para o Brasil...

DANCING BELLS
De Deepak Kumaran Menon
(Malásia, 2007)
EXPECTATIVA
Ter, 02/10 - Estação L. Alvim 1 - 18h00 (LA058)
Ter, 02/10 - Estação L. Alvim 1 - 22h00 (LA060)
Qua, 03/10 - Espaço de Cinema 1 - 12h00 (EC179)
Qua, 03/10 - Espaço de Cinema 2 - 16h45 (EC276)

POR TATIANA LEITE

TEXTO VIP PARA O BLOG!

O Blog NOTÍCIAS DO FRONT tem a honra de publicar na íntegra a afetuosa carta que o diretor Walter Salles acaba de enviar ao Festival do Rio, por ocasião da exibição de CHACUN SON CINÉMA. Leia a seguir:

Boa noite,
Estamos no meio de uma filmagem em São Paulo e por isso não posso estar com os amigos do Festival e do Estação hoje.

O Festival do Rio acredita num cinema plural, em que cinematografias vindas de latitudes diversas oferecem pontos de vista diferentes sobre o mundo. ‘Chacun son Cinéma’ nasce a partir de um desejo semelhante, expresso pelo Presidente do Festival de Cannes, Gilles Jacob, ao reunir realizadores vindos de culturas diferentes para festejar os 60 anos do Festival num filme coletivo.

O convite era totalmente aberto e realizei, na verdade, uma co-autoria. Ele só foi possível graças a esses geniais improvisadores que são os repentistas Castanha e Caju, e ao diretor-assistente George Moura. É a eles que dedico essa primeira exibição no Brasil. Aproveito para enviar um forte abraço para todos aqueles que tornam esse festival cada vez mais importante possível.

Até já e boa projeção,

Walter Salles


CHACUN SON CINÉMA é o nome de um projeto idealizado pelo diretor do Festival de Cannes, Gilles Jacob, para comemorar a 60ª edição do evento.
Trata-se de um filme coletivo, composto por curtas-metragens de trinta e cinco dos principais cineastas na atualidade.
A obra reflete o espírito do Festival, na valorização da variedade de culturas, olhares e talentos, que em todos os anos são revelados em Cannes.
Inspirados pelo desafio do projeto, os cineastas tiveram como tema comum o maior ponto de encontro e um dos principais fetiches dos cinéfilos: a sala de cinema!

A CADA UM SEU CINEMA (CHACUN SON CINEMA)
De
Theo Angelopoulos (Trois minutes) / Olivier Assayas (Recrudescence) / Bille August (The Last Dating Show) / Jane Campion (The Lady Bug) / Youssef Chahine (47 ans après) / Chen Kaige (Zhanxiou Village) / Michael Cimino (No Translation Needed) / Joel e Ethan Coen (World Cinema) / David Cronenberg (At the Suicide of the last Jew in the World, in the Last Cinema in the World) / Jean-Pierre e Luc Dardenne (Dans l´obscurité) / Manoel de Oliveira (Rencontre unique) / Raymond Depardon (Cinéma d´été) / Atom Egoyan (Artaud Double Bill) / Amos Gitai (Le Dibbouk de Haifa) / Hou Hsiao-hsien (The Electric Princess Picture House) / Alejandro González Iñarritu (Anna) / Aki Kaurismäki (Fonderie) / Abbas Kiarostami (Where is my Romeo?) / Takeshi Kitano (One Fine Day) / Andreï Konchalovsky (Dans le noir) / Claude Lelouch (Cinéma de boulevard) / Ken Loach (Happy Ending) / Nanni Moretti (Diario di uno spettattore) / Roman Polanski (Cinéma érotique) / Raoul Ruiz (Le Don) / Elia Suleiman (Irtebak) / Walter Salles (À 8.944 km de Cannes) / Tsai Ming-Liang (It´s a Dream) / Gus Van Sant (First Kiss) / Lars von Trier (Occupations) / Wim Wenders (War in Peace) / Wong Kar-Wai (I Travelled 9.000 km to Give it to You) / Zhang Yimou (Movie Night).
(França, 2007)
CANNES 60 ANOS
Ter, 02/10 - Est Barra Point 2 - 14h30 (BP245)
Ter, 02/10 - Est Barra Point 2 - 21h30 (BP248)
Qui, 04/10 - Espaço de Cinema 1 - 14h30 (EC187)
Qui, 04/10 - Espaço de Cinema 1 - 19h00 (EC189)

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

ILUMINANDO A ESCURIDÃO

Já chegou ao Festival a americana Sloane Klevin, montadora e co-produtora de UM TÁXI PARA A ESCURIDÃO. Ela apresenta a sessão do filme nesta 3ª-feira à noite, e na 4ª estará presente ao CCJF para o debate
“Tirando as luvas: entre mortos e feridos, todos são suspeitos”.

UM TÁXI PARA A ESCURIDÃO – Melhor Documentário no Festival de Tribeca 2007 – faz parte do sólido conjunto de recentes produções que expõem o abuso do exército norte-americano nas incursões pelos países árabes pós-11 de setembro. O filme conta a história de um taxista afegão preso por militares locais que apareceu morto na Base Aérea Americana de Bagram. Meses de investigação levaram uma jornalista do New York Times até a remota casa do taxista. Lá, ela encontrou o atestado de óbito, em inglês, entregue pelo FBI à sua família, que só fala pashtu. Causa da morte: homicídio.

Entre o material que tinha para montar o filme, Sloane Klevin usou imagens gravadas pelos filhos de Saddam Hussein das execuções na prisão de Abu Ghraib (a documentação era parte integral da execução). Como co-produtora do filme, Sloane encontrou uma lei nos EUA que permitia a utilização gratuita de material da TV em documentários desde que fosse comprovado o interesse público. Com esse argumento, UM TAXI PARA A ESCURIDÃO pôde exibir imagens do presidente americano Bush e seu vice, Dick Cheney, e até do seriado 24 Horas. O nome do filme vem de uma passagem de Cheney no pós 9/11, quando disse que agora os EUA iriam partir para o “lado escuro” – ou seja, a legitimação da tortura como forma de interrogação.

Sloane Klevin trabalhou com o diretor Alex Gibney na premiada série televisiva Martin Scorsese Presents The Blues. Como montadora, ela vem de uma carreira que inclui filmes – Real Women Have Curves, Harriet the Spy e Heights, este último dirigido por Merchant Ivory e protagonizado por Glen Close – comerciais e videoclipes, como os da banda U2. Atualmente, Sloane é professora de montagem da Pós-graduação de Columbia University.

UM TÁXI PARA A ESCURIDÃO (TAXI TO THE DARK SIDE)
De Alex Gibney
(EUA, 2007)
FRONTEIRAS
Ter, 02/10 - Estação Botafogo 3 - 12h30 (EB367)
Ter, 02/10 - Estação Botafogo 3 - 19h15 (EB370) ! COM PRESENÇA DA MONTADORA !
Qua, 03/10 - C.C. Justiça Federal - 18h30 ! SEGUIDO DE DEBATE !

POR VIK BIRKBECK

QUEM É JIA ZHANG

No filme JIA ZHANG VAI PARA CASA, o diretor francês Damien Ounouri acompanhou a volta do diretor chinês Jia Zhang Ke para a sua casa em Pequim após o Festival de Veneza no qual levou o Leão de Ouro de Melhor Filme por EM BUSCA DA VIDA.

Um dos maiores talentos do cinema contemporâneo, Jia Zhang lembra histórias de sua infância, conta detalhes de suas experiências cinematográficas, mostrando as locações dos primeiros filmes – os premiados Xiao Wu-Pickpot e Platform –, e fala dos intentos e inspirações ao realizar UNKNOWN PLEASURES e O MUNDO. Acima de tudo, em JIA ZHANG VAI PARA CASA, Jia oferece uma importante análise do seu país, a China. O filme conta ainda com depoimentos do seu magnífico diretor de fotografia, Yu Lik Wai, da sua atriz-fetiche, Zhao Tao, e de outras personalidades, que ajudam a dissecar um pouco as obras deste grande diretor.

Se antes do documentário eu já adorava Jia Zhang, depois de assisti-lo passei a adorá-lo ainda mais: uma figura doce e extremamente inteligente, que pensa o mundo através do cinema. Imperdível!

JIA ZHANG VAI PARA CASA (XIAO JIA GOING HOME)
De Damien Ounouri
(França, 2007)
AGNES B.

Seg, 01/10 - Cine Glória (Memorial GV) - 15h30
Seg, 01/10 - Cine Glória (Memorial GV) - 19h00
Ter, 02/10 - Estação Botafogo 3 - 17h00 (EB369)
Ter, 02/10 - Estação Botafogo 3 - 23h45 (EB372)

POR TATIANA LEITE

A VEZ DOS SEM-VOZ

Mudo, em preto e branco, passado na década de trinta – e ainda assim podemos dizer que A ANTENA é um filme futurista. Se por um lado a obra é largamente influenciada pelo expressionismo alemão de Murnau e Fritz Lang e dos soviéticos Vartov e Ensestein, por outro ela também nos remete à linguagem dos graphic novels, devido principalmente ao modo de inserção do texto, que o tempo todo contracena com os personagens (em vez de aparecer em cartelas estanques, como nos filmes mudos originais). Explica o diretor, o argentino Esteban Sapir: “Os filmem mudos tendiam a explorar o potencial da imagem, o que gerou uma corrente artística concreta; isto, somado ao meu interesse pelo mundo fantástico dos comics, fez nascer A ANTENA, como uma reinterpretação daquele cinema onde o valor poético da imagem é imprescindível”.

A história também retoma uma questão antiga dentro do cinema, mas cada vez mais relevante: o poder da comunicação. Uma metrópole passa por um inverno rigoroso, e a população encontra-se muda e passiva. Um homem de nome Mr. TV monopoliza todos os veículos de comunicação, através dos quais estimula o consumo irrestrito de uma série de produtos com o seu selo. Mas Mr. TV engendra um plano ainda mais sinistro para dominar eternamente todo o país, necessitando para isso seqüestrar uma linda e cativante jovem – a única pessoa que permanece com a capacidade de falar. Diz o diretor: “As pessoas hoje acreditam mais na televisão do que no que vivenciam, e isto faz com que percam o seu ponto de vista, a sua voz. Além disso, como fotógrafo, sempre me interessei pela expressão com imagens - e que melhor desculpa do que um filme mudo sobre a falta de comunicação?”.

Este é o segundo filme de Sapir, que vem de uma longa carreira como fotógrafo de publicidade e diretor de videoclipes. Para ele, A ANTENA foi acima de tudo uma oportunidade de se aproximar do espectador de modo mais experimental. “Com o filme, quis transmitir uma mensagem a partir de um lugar não-literal, mas onde a palavra tivesse grande importância, através de elementos da literatura fantástica. O filme foi pensado como uma espécie de livro, pelo tanto que o texto representa na história”.

A ANTENA (LA ANTENA)
De Esteban Sapir
(Argentina, 2007)
PREMIERE LATINA
Seg, 01/10 - Espaço de Cinema 2 - 14h45 (EC263)
Seg, 01/10 - Espaço de Cinema 2 - 21h30 (EC266)
Ter, 02/10 - Estação L. Alvim 1 - 16h15 (LA057)
Ter, 02/10 - Estação L. Alvim 1 - 20h15 (LA059)

Sessão de Gala em FRONTEIRAS

EZRA, O MENINO SOLDADO será exibido nesta 2a-feira, às 19h15, no Estação Botafogo 3, com a presença do diretor, Newton Aduaka.

Veja mais detalhes aqui!

BRANCA DE NEVE REVISITADA

Amanhã, terça-feira, é a última chance de ver esta animação bizarra e surpreendente: SNOW WHITE THE SEQUEL. Sátira do clássico infantil A Branca de Neve, aqui a famosa frase final “E viveram felizes para sempre” é seriamente posta em dúvida. Primeiro, uma falsa Fada Madrinha tenta usar a Bela Adormecida num complô conta o Príncipe Encantado, subvertendo a ordem no Reino. Cinderela então se revela uma ninfomaníaca, um ogro subnutrido procura desesperadamente por comida e os Sete Anões estão de saco-cheio disso tudo. Impagável.

"O meu principal objetivo é desconstruir a idéia de que tudo é belo, que todos se amam e realmente vivem num mundo onde é a alegria que impera, e para sempre. (...) Procuro abrir novas janelas para o público, arejar os seus pensamentos e deixar claro a todos que não há limites em nosso mundo, basta acreditarmos nisto" - disse o diretor belga Picha, presente ao Festival.

SNOW WHITE THE SEQUEL (Blanche-Neige, la suite)
De Picha
MIDNIGHT
(Bélgica / França / Polônia / RU, 2006)
Ter, 02/10 - Palácio 2 - 14 (PL245)
Ter, 02/10: Palácio 2 - 19 (PL247)