domingo, 30 de setembro de 2007

ÉPICO ARGENTINO

Hoje à noite tem a estréia de ARGENTINA LATENTE, terceira parte da tetralogia de Fernando Solanas (presente à sessão!) sobre aquele país, iniciada com Memoria del saqueo (2004), seguida por La dignidad de los nadies (2005), e que deve ser concluída com Los hombres que están solos y esperan, já em filmagem. Solanas está em plena campanha pela presidência da Argentina nas eleições de outubro e veio rapidamente ao Rio falar de seu filme, que guarda muitas similaridades com o Brasil.


O formato é de um road-movie pelo país, revelando sua dimensão e potencialidade, seus centros e rincões. Explica o diretor: "Apesar das crises periódicas, da falta de recursos e da fuga permanente de cérebros, a ciência nacional seguiu avançando graças ao compromisso e à criatividade de seus pesquisadores. É um épico de 150 anos de desenvolvimento tecnológico que retomou saberes e conseguiu aprofundá-los. A história de nossa indústria demonstra o que foi e o que ainda é possível. Este filme é dedicado aos jovens cientistas e trabalhadores dispostos a recuperar a Argentina latente".

ARGENTINA LATENTE
De Fernando Solanas
(Argentina, 2007)
DOC LATINOS
Dom, 30/09 - Espaço de Cinema 1 - 16h45 (EC161)
Dom, 30/09 - Espaço de Cinema 1 - 21h30 (EC163) ! COM A PRESENÇA DO DIRETOR !
Ter, 02/10 - Estação Ipanema 1 - 13h15 (IP156)
Ter, 02/10 - Estação Ipanema 1 - 17h45 (IP158)

O DEBATE DE HOJE

"Que tu tenhas teu corpo: tráfico humano e escravidão sexual"

Com a exibição do filme MULHERES SEM PIEDADE e a presença do diretor, Lukas Roegler, além dos convidados:
- Gabriela Leite, presidente da ONG Davida;
- Lucia Xavier, da ONG CRIOLA.

18h30, no CCJF.

Ver detalhes aqui.

ABRA O OLHO!

Hoje, às 20h, no Espaço de Cinema 3, o diretor iraniano Ali Reza Amini apresentará seu mais recente trabalho, FECHE... APENAS SEUS OLHOS. O filme expõe as angustias de alguns jovens iranianos que tentam suicídio coletivo. Ali Reza, que no ano passado apresentou TIME FROZE, realiza agora um delicado trabalho autoral.

Tendo iniciado sua carreira como assistente de direção de Bahman Ghobadi (Tempo de embebedar cavalos, Tartarugas podem voar), Ali Reza, de apenas 37 anos, dirigiu cinco longas metragens e já tem um novo projeto para 2008...

No fim da sessão, o diretor estará disponível para perguntas dos espectadores.

POR TATIANA LEITE

sábado, 29 de setembro de 2007

O ONIPRESENTE

Vi pela primeira vez Diego Luna nas telas numa sessão do Festival do Rio 2000, na sala 3 do Espaço, com o filme mexicano UN DULCE OLOR A LA MUERTE, de Gabriel Retes. Era o primeiro ano da Premiere Latina e Diego tinha apenas 20 anos.

Com o tempo, o Festival do Rio cresceu, o programa amadureceu e Diego também. Depois o vimos no Festival 2001 com o já clássico Y TU MAMÁ TAMBIÉN, onde contracenava com Gael García Bernal, e em CIUDADES OSCURAS, do Fernando Sariñana; em 2002, lá estava ele em FRIDA; no ano passado, em SÓ DEUS SABE, de Carlos Bolado em co-produção com o Brasil, e em O MUNDO MARAVILHOSO, de Luis Estrada.

Este ano, nos surpreendemos com a onipresença de Luna: atua em O BUFALO DA NOITE, filme com roteiro de Arriaga que estreou em Sundance, e em MISTER LONELY, de Harmony Korine, onde faz o papel de um sósia de Michael Jackson; é produtor executivo da estréia de seu sócio Gael García Bernal na direção, com DEFICIT, e em COCHOCHI, sucesso no recente Festival de Veneza; e estréia ele mesmo na direção com o documentário J.C.CHÁVEZ, sobre o campeão de boxe mexicano.

Diego acompanha de perto tanta versatilidade e chega hoje ao Rio direto para o final da sessão das 19h15 de BUFALO, no Espaço de Cinema 1. Na 2ª-feira, apresenta ao público o seu CHÁVEZ, às 19h15 no Espaço de Cinema 2.

É um grande privilégio termos dois dos maiores atores latinos dos últimos tempos presentes ao Festival do Rio. Ricardo Darín e Diego Luna têm uma linda trajetória, sempre acompanhada de perto pelo Festival e oferecida com carinho para vocês.

Buen provecho!

POR ANA LUIZA BERABA

SALVE STANLEY NELSON!

Stanley Nelson insiste em apresentar todas as sessões de sua retrospectiva e não perde uma oportunidade de responder às perguntas do público. E, ao acender as luzes no final da sessão, todos querem saber mais sobre esse desbravador do lado desconhecido da América, que se tornou documentarista para contar as histórias das pessoas até então invisíveis para a grande mídia. Diz uma lenda africana que, enquanto o leão não tiver griot, só ouviremos a história do caçador.

Hoje ainda temos a sessão de:

UM LUGAR SÓ NOSSO (A Place of Our Own)
Sáb, 29/09 - Caixa Cultural 2 - 19h15

Retrato de um balneário da Nova Inglaterra que guarda significado especial não apenas para o diretor, mas para muitos negros que também pertenceram à alta classe-média americana nas décadas de 50 e 60. A região era o principal destino de férias para essa população, que no resto do ano vivia rodeada por famílias brancas nos bairros das grandes capitais. Stanley e seus amigos de infância estudaram em escolas particulares, muitas vezes sem contato com a cultura negra – enquanto na cidade de Oak Bluffs, eles podiam se socializar e acabavam conhecendo as futuras esposas. Num momento em que a demanda por justiça racial estava prestes a explodir nacionalmente, Oak Bluffs oferecia um alívio crucial. “Era um lugar onde, ao menos durante o verão, o mundo não nos definia apenas pela cor da pele” – lembra o diretor. Filmado no verão seguinte ao falecimento da mãe de Stanley, UM LUGAR SÓ NOSSO mostra a trajetória de sua família naquela comunidade ao longo de três décadas. “Enquanto os jovens chegavam dizendo-se pertencentes àquele lugar, os mais velhos se queixavam das mudanças nos costumes” – conta o diretor. Com o talento de Stanley Nelson voltado para as tensões de sua própria vida, UM LUGAR SÓ NOSSO se transforma num ensaio sobre a luta dos afro-americanos por um ambiente onde eles se sintam em casa.

MARCUS GARVEY: NO OLHO DO FURACÃO (Marcus Garvey: Look For Me In the Whirlwind)
Sáb, 29/09 - CCJF - 20h30

Visionário e manipulador, brilhante e enigmático, orador poderoso e autoritário. Entre os muitos aspectos da vida controversa de Marcus Garvey, um fato é certo: entre os anos de 1916 e 1922, ele comandou o maior movimento negro de massa do mundo, chamado Associação pelo Desenvolvimento Negro Universal. Nascido na Jamaica, Garvey emigrou para Nova York em 1914, levando consigo uma mensagem de poder popular. Após rodar os EUA, sua organização lançou o jornal “A palavra negra”, que conquistou leitores em todo o mundo. O jornal denunciava o preconceito contra negros e pedia doações para um projeto de retorno à África, com o ideal de construção de uma nação independente. Garvey conseguiu reunir milhares de homens e mulheres norte-americanos com um sentimento até então inédito de orgulho racial, apontando os antigos líderes negros como fracos ou subservientes. Por outro lado, ele também foi acusado de má administração fiscal e mostrou-se disposto a colaborar com a Ku Klux Klan – fatos que nos levam a entender o ostracismo do final de sua vida.

É a última chance de ouvir o diretor, que vai embora no domingo!

POR VIK BIRKBECK

AS BELEZAS DA CIDADE

Vik BirkBeck, curadora da Mostra Stanley Nelson, ao lado do homenageado, almoçando na Praia Vermelha.





Passista da Escola de Samba Grande Rio, em apresentação na Tenda de Copacaba, neste sábado.
Foto tirada por Rosangela, filha de Vik.

Mais uma dica dos nossos amigos da MOSTRA GERAÇÃO

Uma das grandes surpresas da Mostra Geração em 2007 é, sem sombra de dúvidas, o filme francês UN BEAU MATIN... (UM BELO DIA...)

Dirigido pelo casal Charlotte e David Lowe, o filme retrata de forma bastante lúdica um dia na vida de duas crianças. Os jovens pequeninos embarcam em uma aventura embalada pelas músicas do compositor russo Sergei Prokofiev (1891 – 1953). São clássicos como “Pedro e o Lobo” e “Romeu e Julieta” que dão o tom de fantasia em uma narrativa que é recheada de cores e sonhos.

A diretora Charlotte estudou atuação no Actor’s Studio e agora produz e dirige filmes com o marido David, um britânico que, alem de diretor, também acumula as tarefas de fotógrafo, doutor em física nuclear, ator, repórter de TV, ilustrador, compositor e realizador de cinema. E podemos dizer que a linda de produção foi mesmo feita em família, já que as crianças do filme são os filhos do casal.

Então, prepare-se: se você ainda não tem programa para domingo, vale a pena conferir a última sessão de UN BEAU MATIN... Os diretores estarão no Rio especialmente para apresentar o filme e conversar com o público. Levem as crianças, os amigos, os adultos, os avós... Trata-se de um filme para todas as idades e vontades. E o mais legal é que os pequeninos podem assistir sem problemas já que esse filme conta com o divertido recurso das dublagens ao vivo da Mostra Geração.

A sessão será domingo agora, dia 30 de setembro, às 16h30, na Caixa Cultural.

POR LAURA CALDAS
Mostra Geração

Clandestinidade e escravidão na Europa

As mostras Fronteiras e Dox trazem três filmes especialmente impactantes, com temas similares, tão relevantes quanto indigestos. São filmes para refletir sobre a democracia européia e sua atual política de controle da imigração. Estamos falando de BEM-VINDO À EUROPA, do francês Bruno Ulmer, exibido no Festival de Sundance deste ano; NÃO SE PODE EMBRULHAR BRASA COM PAPEL, cujo diretor cambojano Rithy Panh, aos 11 anos de idade, foi colocado num campo de trabalhos forçados, de onde conseguiu escapar; e MULHERES SEM PIEDADE, do alemão Lukas Roegler - que faz sua estréia mundial aqui, com a presença do diretor e debate no CCJF.

MULHERES SEM PIEDADE (acima) tem suas últimas exibições neste fim de semana. O documentário trata de nigerianas marginalizadas cujo sonho de um futuro melhor desmorona-se rapidamente no pesadelo da prostituição pelas ruas européias. Recrutadas em sua maioria de um pequeno povoado da periferia de Benin, essas meninas, ainda antes de se tornarem escravas sexuais, passam por um ritual oculto de nome “juju”, que vai contra a religiosidade africana. Ao chegarem à Europa, as nigerianas descobrem que terão de arcar com passagem se quiserem retornar à Nigéria, o que as deixa eternamente dependentes das traficantes, chamadas “Madams”. As cafetinas fazem deste comércio escravo o único crime organizado em escala global exclusivamente controlado por mulheres. O diretor Lukas Roegler, formado em ciência política, trabalha como jornalista investigativo, e este é o seu primeiro filme. É também a primeira vez que as câmeras registram esta nova e brutal relação entre as cidades de Benin e, principalmente, Turin (Itália), onde as nigerianas representam atualmente quase 60% das prostituas locais.

BEM-VINDO À EUROPA (à direita) nos apresenta a oito jovens de origens curda, marroquina e romena que vão tentar construir uma vida clandestina em cidades como Paris, Amsterdã e Madri. São homens que tiveram de deixar seus países por desavenças políticas ou atraídos pela possibilidade de, à distância, sustentar suas famílias. Porém, uma vez que desembarcam na Europa, os imigrantes se surpreendem ainda no submundo – morando em carros, dormindo em caixas e fugindo da polícia para muitas vezes cair no abismo das drogas e da prostituição. O diretor Bruno Ulmer optou pelo superclose e fotografia luminosa, o que fez o foco nos entrevistados preponderar sobre o mundo à sua volta. “A imigração clandestina é um desafio primeiro porque há que se filmar em esconderijos sem luz. Além disso, era preciso registrar bem as vozes, mas a prostituição é um tema difícil de os homens falarem. Para conseguir testemunhos sinceros e sem ruídos, mantive conversas cara a cara em ambientes sem adornos onde suas vozes fossem o único destaque” – conta o diretor.

As meninas cambojanas de NÃO SE PODE EMBRULHAR BRASA COM PAPEL (à esquerda) são seduzidas ainda virgens e pouco mais que crianças, embarcando no caminho sem volta da exploração sexual. As expressões de dor e sofrimento estampadas em seus rostos falam mais alto do que as histórias que contam no filme. O diretor Rithy Panh consegue compartilhar da intimidade das entrevistadas com comovente delicadeza; para ele, a prostituição é uma “morte espiritual”. De fato, a história do próprio Rithy Panh daria um filme tão impressionante quanto este que realizou. Após dois anos num campo de trabalhos forçado do Camboja, Rithy conseguiu fugir para a França, onde se formou em cinema pelo IDHEC. Sua primeira obra de ficção, Neak Srê, de 1994, foi apresentada na Competição Oficial de Cannes.

MULHERES SEM PIEDADE (SISTERS OF NO MERCY)
De Lukas Roegler
(Alemanha, 2006)
FRONTEIRAS
Sáb, 29/09 - Estação Botafogo 3 - 19h15 (EB352)
Dom, 30/09 - C.C. Justiça Federal - 18h30 *
* A sessão será seguida pelo debate
Que tu tenhas teu corpo: tráfico humano e escravidão sexual

Com a presença do diretor do filme e dos convidados:
- Gabriela Leite, presidente da ONG Davida;
- Lucia Xavier, da ONG CRIOLA.

PAPEL NÃO EMBRULHA BRASAS (LE PAPIER NE PEUT PAS ENVELOPPER LA BRAISE)
De Rithy Panh
(França, 2006)
DOX
Qua, 03/10 - Estação Ipanema 1 - 15h30 (IP162)
Qua, 03/10 - Estação Ipanema 1 - 19h45 (IP164)
Qui, 04/10 - Estação Botafogo 3 - 14h45 (EB380)
Qui, 04/10 - Estação Botafogo 3 - 21h30 (EB383)

BEM-VINDO À EUROPA (WELCOME EUROPA)
De Bruno Ulmer
(França, 2006)
FRONTEIRAS
Qua, 03/10 - Estação L. Alvim 1 - 14h00 (LA061)
Qua, 03/10 - Estação L. Alvim 1 - 20h00 (LA064)
Qui, 04/10 - Estação Botafogo 3 - 12h30 (EB379)
Qui, 04/10 - Estação Botafogo 3 - 19h30 (EB382)

POR VIK BIRKBECK

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

ATORES E/OU DIRETORES

O Festival do Rio não gera expectativas apenas no público. Diretores estreantes também vêem o evento como a grande oportunidade de se lançarem mundialmente. Mas quando o diretor, além de estreante, vem de uma premiada carreira como ator, a tensão fica redobrada. Neste sentido, o Festival 2007 está especialmente atraente, com os primeiros filmes dirigidos por nomes conhecidos como o argentino Ricardo Darín e o mexicano Gael García Bernal. E ambos ainda estão presentes como atores de outras produções, para a alegria dos fans – e trabalho da crítica.

Darín – Kamchatka, Nove Rainhas, O filho da noiva – está no Festival como ator de XXY (ver post) e de LA SEÑAL (acima), filme em que faz sua estréia na direção. A situação de Gael – Babel, Diários de Motocicleta, Má educação – é bem parecida: estrelando SONHANDO ACORDADO (Michel Gondry, 2006), aparece também em DÉFICIT (abaixo) como ator e diretor.

Conterrâneo de Gael – e seu companheiro no filme E sua mãe também (Alfonso Cuarón, 2001) – Diego Luna é um caso especialíssimo dentro do Festival do Rio. Ele estará presente à exibição de seu primeiro trabalho como diretor, o documentário J.C. CHÁVEZ (dia 01/10, às 19h15, no Espaço de Cinema 2. Aguarde mais detalhes aqui!), mas vem ao Rio também como ator de dois filmes – MISTER LONELY (Harmony Korine, 2006) e O BÚFALO DA NOITE (Jorge Hernandez Aldana, 2007) – e produtor de COCHOCHI (Laura Amelia Guzmán e Israel Cárdenas, 2006). Com apenas 27 anos, Diego Luna parece ter escolhido o Festival do Rio para despontar como grande realizador dentro novo cinema latino-americano.

OS ÓRFÃOS DA ÁFRICA

Filhos de pais vítimas da AIDS ou dos combates fratricidas e étnicos, milhares de crianças africanas têm de enfrentar o futuro sozinhas. Por isso, e principalmente desde a guerra de Rwanda, muitos cineastas têm se dedicado aos males do continente. Com o objetivo de retratar os órfãos que utilizam a sua cultura para superar a tristeza, as Mostras Fronteiras e Dox, trazem, respectivamente, um longa de ficção e um documentário.

EZRA, O MENINO SOLDADO
De Newton I. Aduaka
(França, 2007)
FRONTEIRAS
Seg, 01/10 - Estação Botafogo 3 - 12h30 (EB361)
Seg, 01/10 - Estação Botafogo 3 - 19h15 (EB364)
Ter, 02/10 - Est Barra Point 1 - 16h30 (BP146)
Ter, 02/10 - Est Barra Point 1 - 21h00 (BP148)


No terceiro longa-metragem do jovem cineasta nigeriano Newton Aduaka, o personagem título é um adolescente sierra-leonense que deve enfrentar os pesadelos do seu passado como menino soldado. Os comandantes das forças rebeldes costumavam drogar as crianças raptadas, para induzi-las a cometer as piores atrocidades. Aduaka retrata a mente fraturada do jovem ex-combatente através de flashbacks alucinantes enquanto ele busca a verdade diante de uma Comissão de Reconciliação. O filme foi o grande vencedor do último Fespaco – Festival Pan-africano de Ouagadougou – e selecionado para a Quinzena de Cannes.

ESTAMOS TODOS JUNTOS (WE ARE TOGETHER)

De Paul Taylor
(RU, 2006)
DOX
Sex, 28/09 - Cine Glória (Memorial GV) - 19h00
Seg, 01/10 - Estação Botafogo 3 - 14h45 (EB362)
Seg, 01/10 - Estação Botafogo 3 - 21h15 (EB365)

A menina Slindile, da África do Sul, apesar de ter perdido os pais e estar em vias de perder o primogênito da família devido ao flagelo da AIDS, anima seus irmãos menores com uma imbatível alegria e o seu canto cristalino. Com o apoio de músicos profissionais, o coral do orfanato que freqüenta consegue gravar um cd, atraindo a atenção de ONG’s internacionais.



POR VIK BIRKBECK

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

AFINAL: O QUE É CINEMA AO VIVO?

Veja o que falou o jornalista Leonardo Cruz, da Folha de São Paulo, que esteve ontem na estréia da Mostra Live Cinema do Festival do Rio:

"Cinema ao Vivo leva VJs, videoartistas e cineastas ao palco do Odeon. Com seus laptops, durante cerca de 20 minutos, eles improvisam ao vivo um remix de imagens e sons pré-gravados, criam uma obra experimental, não-linear, que na primeira sessão fez vibrar o chão da tradicional sala de cinema carioca. Esse tipo de proposta já vem sendo realizada há um tempinho no exterior e no Brasil, mas é rara em mostras cinematográficas".

"O Cinema ao Vivo continua no Festival do Rio até sábado. Sempre à meia-noite. Sempre no Cine Odeon. E os artistas mudam a cada dia. Hoje e amanhã, o coletivo Embolex vai misturar Bang Bang, de Andrea Tonacci, e A Mulher de Todos, de Rogério Sganzerla. Também amanhã e sábado, Rodrigo Minelli e Ronaldo Gino farão uma releitura de Limite, de Mário Peixoto, e o pessoal da Ludo Filmes vai remixar A Volta dos Mortos-Vivos, de George Romero. Medo!"

Para ver a matéria na íntegra visite: www.folha.com.br/ilustradanocinema

STANLEY NELSON NO RIO

Já chegou ao Rio o documentarista americano Stanley Nelson! Ele estará presente às estréias de todos os filmes que compõem a Mostra em sua homenagem, na Caixa Cultural e no CCJF. Nas sessões de hoje - abertura da Mostra, que vai até o dia 04 - Stanley apresenta dois filmes.

A IMPRENSA NEGRA AMERICANA: UM COMBATE SEM TRÉGUAS
(The Black Press: Soldiers Without Swords)

Qui, 27/09 - Caixa Cultural 2 - 16h45

Ainda que ativos desde o século XIX, os jornais dedicados à comunidade negra são um dos segmentos menos conhecidos da imprensa norte-americana. Este é o primeiro relato sobre homens que arriscaram suas vidas para que os afro-americanos pudessem estar representados segundo suas próprias palavras e imagens. O documentário conta a história de jornais como o The Chicago Defender, que estimulava os negros do sul do país a migrarem para o norte, onde a convivência era mais amigável – como conseqüência, o jornal foi banido dos estados sulistas, mas continuou circulando graças aos condutores de trem, que transportavam exemplares clandestinamente. Outro caso apresentado é o The Pittsburgh Courier, que atraiu a atenção do FBI durante a II Guerra Mundial com uma campanha para que a batalha contra o Fascismo na Europa se estendesse à segregação dentro dos EUA. Nelson investiga como, ironicamente, estas publicações parecem ter sido vítimas de seu sucesso. Com a insurgência popular em nome dos Direitos Civis nos anos 60, a grande mídia também passou a cobrir a problemática racial, esvaziando o interesse pela imprensa negra.


O ASSASSINATO DE EMMETT TILL
(The Murder of Emmett Till)

Qui, 27/09 - Caixa Cultural 2 - 19h15

Agosto de 1955. Emmett Till era um garoto de 14 anos que foi visitar o tio no Mississipi. Lá, Emmett foi acusado de ter assobiado para uma mulher branca. Três dias depois, o marido da mulher e um amigo invadiram a casa dos tios de Emmett e o seqüestraram – sem que estivessem usando máscaras ou qualquer outro disfarce. Mais três dias, e o garoto foi encontrado morto com um tiro na cabeça e o corpo tão mutilado que só pôde ser identificado por um anel em seu dedo. Os assassinos chegaram a ser incriminados, mas um júri composto apenas por brancos os libertou. O episódio se transformaria no ponto nevrálgico de toda a luta moderna pelos direitos dos negros nos Estados Unidos, graças principalmente à atitude da mãe de Emmett, que insistiu para que o velório de seu filho fosse com o caixão aberto. “Os negros vinham sendo linchados há 100 anos, mas até aquele momento não se sabia realmente do se tratava. Cinqüenta mil pessoas viram o corpo do menino, e as fotos circularam por todo o mundo. Com o filme, pretendi mostrar como a luta pelos Direitos Humanos é feita por pequenos heróis como a mãe de Emmett” – conta o diretor.

VEJA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA

O ASSASSINATO DE EMMETT TILL (EUA, 2003)
Dom, 30/09 - Caixa Cultural 2 - 14h15
Qui, 04/10 - C.C. Justiça Federal - 18h30

A IMPRENSA NEGRA AMERICANA: UM COMBATE SEM TRÉGUAS (EUA, 1998)
Sex, 28/09 - C.C. Justiça Federal - 18h30
Sáb, 29/09 - Caixa Cultural 2 - 14h15

JONESTOWN: VIDA E MORTE NO TEMPLO DO POVO (EUA, 2007)
Sexta - 28/09/2007 Caixa Cultural 2 19:15:00 hs
Domingo - 30/09/2007 Caixa Cultural 2 16:45:00 hs
Quinta - 04/10/2007 C.C. Justiça Federal 14:00:00 hs

MARCUS GARVEY: NO OLHO DO FURACÃO (EUA, 2001)
Sex, 28/09 - Caixa Cultural 2 - 16h45
Sáb, 29/09 - C.C. Justiça Federal - 20h30
Dom, 30/09 - Caixa Cultural 2 - 19h15

UM LUGAR SÓ NOSSO (EUA, 2004)
Sex, 28/09 - Caixa Cultural 2 - 14h15
Sáb, 29/09 - Caixa Cultural 2 - 19h15
Qui, 04/10 - C.C. Justiça Federal - 16h15

POR VIK BIRKBECK

Como está o SEU peixe hoje?

No dia 25 de janeiro deste ano, meu vôo Rio-Paris atrasou, perdi minha conexão Paris-Amsterdam e tive que esperar a próxima. Impaciente no CDG, reli todo o material que eu havia impresso sobre o Festival de Rotterdam e minha atenção se voltou para o filme curiosamente intitulado de HOW IS YOUR FISH TODAY?. Era o primeiro longa da chinesa Xiaolu Guo, que tinha, além desse filme em competição, um novo projeto em desenvolvimento.

Duas horas depois, consegui minha conexão e ao pisar no aeroporto de Amsterdam, fui correndo para a Estação de trens pegar um para Rotterdam. Finalmente cheguei à cidade. Estava exausta, fazia quase 24 horas que eu havia saído do Brasil e, pior, tinha quer ir diretamente para a sede do Festival porque ficaria hospedada com uma amiga holandesa que estava trabalhando no Receptivo de lá. Ao entrar no De Doelen, fui em busca da minha credencial e da minha amiga. Ela havia saído com o júri. Vontade de chorar. Deixei minha mala com suas colegas e, recobrando a euforia, desci para a fila de retirada de ingressos.

O filme de Xiaolu Guo passava naquele mesmo dia um pouco mais tarde, seguido de outro que eu queria muito assistir e já estava marcado desde o Rio. Exausta, consegui finalmente encontrar minha amiga e segui para o hotel. Meia-hora depois, eu já estava pronta e rumei para a minha primeira sessão: DEBAIXO DO GELO A ÁGUA É QUENTE (HOW IS YOUR FISH TODAY?).

Recusei o convite para a cervejinha com amigos, segurei meu jet lag, meu sono, meu cansaço. Valeu a pena! Muito! No filme, três realidades diferentes interagem, levando a um final absolutamente inusitado. As fronteiras entre documentário e ficção são ultrapassadas. O roteiro escrito por Xiaolu Guo e Hui Rao (ambos atuam no filme) é formidável, para além do criativo. É com muito prazer que recomendo que vocês assistam e partilhem dessa adorável experiência.


DEBAIXO DO GELO A ÁGUA É QUENTE (HOW IS YOUR FISH TODAY?)
De Guo Xiaolu
(China, 2006)
EXPECTATIVA
Qui, 27/09 - Espaço de Cinema 1 - 12h15 (EC140)
Qui, 27/09 - Espaço de Cinema 2 - 17h00 (EC240)
Dom, 30/09 - Cine Glória (Memorial GV) - 15h30
Dom, 30/09 - Cine Glória (Memorial GV) - 21h00

POR TATIANA LEITE

UMA NOITE EM BARCELONA

Diretor do premiadíssimo NA CAMA, o chileno Matias Bize vem ao Festival apresentar o seu novo trabalho, O BOM DE CHORAR, cujo argumento – assim como o do filme anterior – é aparentemente simples: ao longo de uma noite, um casal termina uma longa relação pelas ruas de Barcelona.
Bize é uma das grandes promessas da ficção latino-americana. Com apenas 23 anos, ainda na Escola de Cinema do Chile, dirigiu seu primeiro filme, SÁBADO, com o qual conquistou quatro prêmios no Mannheim-Heidelberg Film Festival (Alemanha) e a oportunidade de percorrer diversos festivais internacionais. Bize apresenta a sessão de hoje, no Espaço de Cinema.

O BOM DE CHORAR (LO BUENO DE LLORAR)

De Matías Bize
(Espanha, 2006)
PREMIERE LATINA
Qui, 27/09 - Espaço de Cinema 2 -12h30 (EC238)
Qui, 27/09 - Espaço de Cinema 2 - 19h15 (EC241) ! COM A PRESENÇA DO DIRETOR !
Sáb, 29/09 - Cine Santa - 21h30
Dom, 30/09 - Estação Ipanema 1 - 17h45 (IP148)
Dom, 30/09 - Estação Ipanema 1 - 22h15 (IP150)

PAIXÃO POR HAITI

Primeiro país do novo mundo a se libertar do jugo da escravidão, ainda no século dezoito, sob o comando do líder revolucionário Toussaint l’Ouverture, o Haiti suscita uma paixão eterna nos seus filhos espalhados pelo mundo.
No início de HAITI QUERIDO, vemos um casal ainda adolescente sendo impedido pelo feitor da plantação de cana a sair do trabalho para enterrar o seu bebê. A escravidão continua, embora com outro nome. Mas não estamos em Haiti, e sim na vizinha República Dominicana, onde existe uma imensa colônia de trabalhadores haitianos, os mais pobres dos pobres, que, além do trabalho semi-escravo, ainda sofrem discriminação por serem estrangeiros.
Quando um jovem feitor tenta estuprar a belíssima Madeleine, que está tomando banho num açude, o marido Jean-Baptiste vem à sua ajuda dando um golpe fatal no homem. Eles são obrigados a fugir para não serem mortos. Clandestinos, sem documentos, Madeleine só tem um sonho: voltar ao Haiti.
O filme tem um naturalismo que parece documentário, os atores quase todos jovens, com a sensualidade à flor da pele. Vale a pena conferir.

HAITI QUERIDO (HAÏTI CHÉRIE)
De Claudio Del Punta
(Itália, 2007)
EXPECTATIVA
Qui, 27/09 - Espaço de Cinema 3 - 12h00 (EC343)
Qui, 27/09 - Espaço de Cinema 3 - 20h00 (EC347)
Sex, 28/09 - Est Barra Point 1 - 14h15 (BP129)
Sex, 28/09 - Est Barra Point 1 - 18h45 (BP131)

POR VIK BIRKBECK

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

O QUE É QUE A CORÉIA TEM?

Descobri o cinema coreano graças ao grande Im Kwon taek ainda na década de noventa. Mas foi em 2000 – meu primeiro ano de trabalho na Coordenação Internacional do Festival do Rio –, quando convidamos o impressionante filme The Isle, do Kim Ki-Duk, que passei realmente a pesquisar e batalhar por filmes vindos da Coréia do Sul. De lá para cá, uma sucessão dos novos diretores foram surgindo e os filmes sul-coreanos ganharam espaço em todos os grandes festivais do mundo e surpreendentemente nas próprias bilheterias, nacionais e internacionais.

Hoje, a Coréia do Sul é sem dúvida um dos maiores expoentes do cinema contemporâneo e a fonte parece estar sempre se renovando. Se Kim Ki-duk recentemente andou decepcionando (observo que somente aos cinéfilos, porque seus filmes ainda garantem algumas das mais altas bilheterias do cinema asiático fora do continente), diretores como Park Chan-Wook, da célebre trilogia da vingança (Sympathy for Mr. Vengeance, Oldboy e Lady Vengeance) e Hong Sang Soo (ver meu post anterior) revelaram um país de criatividade e ousadia incessantes. São misturas de gêneros, criações de novas linguagens através de uma fina ironia, da recente abertura sexual, da não-hesitação nas imagens. Há uma sede por cinema e por conhecimento de cinema.

Este ano a nossa seleção apresenta oito (bons) filmes coreanos. Alguns dos filmes são de diretores que vêm mantendo na última década uma cinematografia constante e de qualidade, como os já mencionados Hong Sang soo (Uma mulher na praia) e Kim Ki duk (Sem Fôlego - foto à direta).

Outros filmes foram realizados por cineastas mais novos, como O antigo jardim, de Im Sang so, que dirigiu há poucos anos a pequena obra-prima Une femme Coréene, exibido no Festival do Rio de 2005, além de Lee Jae-yong (As garotas safadas de Dasepo - foto à esquerda), diretor de Untold Scandals, interessante adaptação do romance “Ligações perigosas”.

As surpresas, no entanto, ficam por conta dos debutantes Kim Tai-sik, que realizou Na estrada com o amante da minha mulher (abaixo), um filme que toca em questões fundamentais como a solidão e a busca pelo amor, e Lee Hae-young e Lee Hae-jun, que dirigiram juntos o grande sucesso Like a Virgin, cuja temática bastante delicada é tratada com humor e muita criatividade.

Observo que sete destes filmes não estão comprados para o Brasil, portanto quem quiser conhecer melhor o que a Coréia tem, não pode deixar de assisti-los no Festival.

POR TATIANA LEITE

SAINDO DO FORNO

Acaba de confirmar presença na sessão de hoje do filme argentino XXY no Cine Palácio o ator Ricardo Darín!

Darín está no Rio para apresentar seu primeiro filme como diretor - LA SEÑAL. Em XXY, Darín faz o papel do pai de Alex, uma adolescente hermafrodita que busca os caminhos de afirmação de sua sexualidade.

ANA LUIZA BERABA

O PAPA AINDA É POP

Este filme foi ovacionado na mostra Um Certo Olhar da última edição do Festival de Cannes e conquistou nada menos que seis Kikitos de Filme Estrangeiro em Gramado – incluindo Melhor Atriz, para Virginia Mendéz, Melhor Ator, para César Trancoso, e Melhor Roteiro, que também é assinado pela dupla de diretores. O sucesso é ainda mais notável considerando que O BANHEIRO DO PAPA é o primeiro longa-metragem dos uruguaios Enrique Fernández e César Charlone – este último, diretor de fotografia de Cidade de Deus (Fernando Meirelles, 2001) e da série televisiva Cidade dos Homens.

A história do filme tem uma inspiração real: a visita do Papa João Paulo II ao Uruguai em 1988. Uma pequena cidade da fronteira entre o Brasil e aquele país ferve com a expectativa de receber milhares de fiéis – para o contrabandista Beto, porém, milhares de potenciais compradores de bebidas, roupas, santinhos etc. Beto então constrói na frente de sua casa o chamado “Banheiro do Papa”, onde todos os peregrinos poderão se aliviar. Mediante pagamento.

O BANHEIRO DO PAPA (EL BAÑO DEL PAPA)
De Enrique Fernández e César Charlone
(Uruguai, 2007)
PREMIERE LATINA
Qua, 26/09 - Espaço de Cinema 1 - 16h45 (EC135)
Qua, 26/09 - Espaço de Cinema 1 - 21h15 (EC137)
Sex, 28/09 - Estação L. Alvim 1 - 14h00 (LA036)
Sex, 28/09 - Estação L. Alvim 1 - 22h00 (LA040)
Dom, 30/09 - Cine Santa - 21h30

UM CHE PARA CHAMAR DE SEU

Muitos filmes já tentaram desvendar a verdade por trás do mito de Che Guevara. Este documentário, ao contrário, pretende explorar o mito por trás da verdade. No momento em que se lembram os 40 anos de morte do revolucionário argentino, PERSONAL CHE mostra como ele permanece vivo, e de certo modo atuante. Para realizar as entrevistas, a dupla de diretores – o brasileiro Douglas Duarte e a colombiana Adriana Mariño, que se conheceram num fórum de documentaristas na internet – visitou nada menos que doze países nos quatro cantos do mundo.

O filme traz inúmeros personagens para os quais a História parece ter pouca importância diante do desejo de ver o ídolo sob uma lente pessoal. É o caso de um deputado em Hong Kong que usa Che para lutar contra os comunistas chineses; um camponês boliviano que reza para San Che o ajudar a conseguir trabalho na Espanha; um nazista na Alemanha que o idolatra; uma ópera- rock no Líbano sobre sua vida; um cubano exilado que o considera um terrorista; entre outros. “É o tema menos original que existe; não escolhemos o tema, mas a abordagem. Decidimos fugir das coisas que um documentário tradicional teria; não temos imagens de arquivo dele vivo nem narração. Mais importante: no filme não há ninguém que tenha conhecido o Che. Deixamos os fatos pra lá e fomos atrás de invenções sobre ele” – explica o diretor.


Douglas Duarte e Adriana Mariño vêm ao Festival para a estréia do filme nesta quarta-feira, que será seguida pelo debate
ENTRE A UTOPIA E A REALIDADE: AS VEIAS FUTURAS DA AMÉRICA LATINA.
Além da dupla de diretores, o evento contará com a presença de Carlos Alberto Mattos, crítico de cinema do jornal O Globo.

PERSONAL CHE
De Douglas Duarte e Adriana Marino
(Colômbia, 2007)
DOC LATINO
Qua, 26/09 - C.C. Justiça Federal - 18h30 ! SEGUIDO DE DEBATE COM OS DIRETORES !
Qui, 27/09 - Cine Glória (Memorial GV) - 17h15
Sex, 28/09 - Espaço de Cinema 2 - 14h00 (EC245)
Sex, 28/09 - Espaço de Cinema 2 - 21h00 (EC248)

EM GUERRA POR UMA FAMÍLIA

TERRA SONÂMBULA terá Sessão de Gala amanhã com a presença da diretora portuguesa Teresa Prata. O filme é baseado no romance homônimo do escritor moçambicano Mia Couto. É o primeiro longa-metragem de Teresa, que leu o livro quando ainda era estudante de cinema em Berlim (depois de ter passado a infância na África e a adolescência no Brasil). A obra narra a trajetória de Muidinga, um sonhador menino moçambicano que procura a família num cenário de guerra civil. “É uma história de soldados sem soldados; é sobre os efeitos do conflito nas pessoas normais, que não têm dinheiro para abandonar o país. São pessoas que carregam seus sonhos nas costas, sofrendo a guerra na voz, no corpo” – diz a diretora.

Quando encontra um diário de uma mulher que vive num navio ancorado e procura pelo filho, Muidinga se convence de que ele é a criança perdida, e sai em busca da mãe. Na viagem é acompanhado por um velho que o quer como filho, mas não consegue demonstrar seu afeto. Quase todos os atores são moçambicanos e não profissionais, inclusive o protagonista, um menino de apenas 12 anos que respondeu aos anúncios colocados em jornais e revistas do país. “O filme respeita o espírito do livro. A diretora soube escolher o essencial, que é o realismo mágico e a intimidade em relação aos personagens. É um filme sério e limpo” – disse Mia Couto, que vem a ser o escritor moçambicano mais lido fora do país, com várias de suas obras já adaptadas para o cinema.

TERRA SONÂMBULA
De Teresa Prata
(Portugal, 2006)
EXPECTATIVA
Qui, 27/09 - Espaço de Cinema 2 – 14h45 (EC239)
Qui, 27/09 - Espaço de Cinema 2 – 21h30 (EC242)

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Na crista da Nouvelle Vague Coreana

Há alguns anos acompanho o cinema de Hong Sang-Soo. O cineasta coreano dirigiu seu primeiro longa-metragem A Pig Fell Into The Wall em 1996 - Prêmio de Melhor Filme em Rotterdam -, e a partir do segundo filme teve a maioria de seus trabalhos selecionados para o Festival de Cannes. Foi com Virgin Stripped Bare by Her que percebi realmente a importância do cinema de Hong Sang-Soo, que seus diálogos aparentemente frugazes são na verdade o embasamento de uma arquitetura complexa de conexões e repetiçoes que minam um trabalho supostamente realista.

Sobre seu mais recente filme, UMA MULHER NA PRAIA, que será exibido hoje pela primeira vez no Festival, ele declarou: “Acredito que todos nós temos um desejo secreto de compreender os acontecimentos que nos rodeiam e o significado da vida (...). Eu procuro observar esses acontecimentos a fim de compreender melhor quem somos. O Cinema me ajuda a fazer isso”. Um cinema de reflexões, com humor, fina ironia e uma câmera incessante, sempre buscando desvendar os mistérios dos personagens. Os que o conhecem, imagino que já tenham comprado ingresso para o filme; os que não o conhecem deveriam se permitir a viagem.

UMA MULHER NA PRAIA (Woman on the Beach)
De Hong Sang-Soo
(Coreia do Sul, 2006)
PANORAMA
Ter, 25/09 - Espaço de Cinema 3 - 13h45 (EC330)
Ter, 25/09 - Espaço de Cinema 3 - 21h30 (EC334)
Sáb, 29/09 - Est Barra Point 1 - 14h15 (BP133)
Sáb, 29/09 - Est Barra Point 1 - 18h45 (BP135)

POR TATIANA LEITE

Quando a liberdade é apenas outra forma de prisão

Cineastas independentes israelenses mostram as situações extremas em que vivem os palestinos.

9 STAR HOTEL mostra a extraordinária luta travada por jovens operários palestinos que cruzam a fronteira de Israel como clandestinos para poder trabalhar, construindo prédios de luxo para os israelenses. O cineasta os acompanha correndo pela fronteira, passando a noite de sobressalto em abrigos e fugindo da polícia. Visto inteiramente do ponto de vista dos clandestinos, nos tornamos testemunhas de sua luta desumana para poder trabalhar e sustentar a família.
Em contraste, a vida dos detentos palestinos na prisão de Estufa parece até luxuosa. Depois de perceber que, ao reservar certa liberdade para os presos políticos a Estufa se tornava bem mais tranqüila e organizada, as autoridades israelenses passaram a permitir que os líderes do Fatah e do Hamas ficassem juntos (cada partido numa célula diferente), concordando ainda em negociar as condições de visitas. A prisão, assim, vai assumindo ares de um claustro, onde todos rezam e discutem questões de doutrina. As eleições para a Autoridade Palestina são acompanhadas com grande interesse – com muitos dos presos despontando como candidatos!

HOTEL 9 ESTRELAS (9 STAR HOTEL)
De Ido Haar
(Israel, 2006)
DOX
Qua, 26/09 - Estação Botafogo 3 - 14h45 (EB332)
Qua, 26/09 - Estação Botafogo 3 - 21h30 (EB335)
Qui, 27/09 - Estação L. Alvim 1 - 16h15 (LA032)
Qui, 27/09 - Estação L. Alvim 1 - 20h00 (LA034)

POR VIK BIRKBECK

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

ALEX, M ou F?

Este é um filme tão especial quando o seu personagem principal: Alex é hermafrodita. Os pais optam por não realizar a cirurgia de mudança de sexo, mas administram hormônios para evitar o aparecimento de características masculinas na criança. A família vive isolada em meio a dunas, até que recebe a visita de um casal de amigos, trazendo com eles o filho, Alvaro – adolescente como Alex.

Primeiro longa-metragem da portenha Lucía Puenzo - que estará presente à sessão desta quarta-feira -, “XXY” recebeu o Prêmio da Crítica no último Festival de Cannes. Para a diretora, o que difere seu filme de outros que já abordaram esse tema é a empatia que a câmera demonstra por Alex. “O personagem não é visto como um freak, porque o filme foge da morbidez o tempo todo. Não caí na tentação de mostrar a deformidade nem na cena de sexo entre Alex e Alvaro; queria representar dois jovens sendo surpreendidos, mas não uma anormalidade. Uma coisa é o público conhecer o personagem, outra é mostrar a sua genitália” – diz Lucía.

Apesar das várias questões propositadamente deixadas em aberto pela diretora, uma ganha resposta intrigante ao final do filme: entre ser homem ou mulher, Alex se liberta da necessidade de escolher.

XXY
De Lucía Puenzo
(Argentina, 2007)
MUNDO GAY
Ter, 25/09 - Est Barra Point 1 - 21h00 (BP120)
Qua, 26/09 - Palacio 2 - 14h00 (PL221)
Qua, 26/09 - Palacio 2 - 20h00 (PL223) ! COM A PRESENÇA DA DIRETORA !
Sex, 28/09 - Estação Botafogo 1 - 23h59 (EB156)

Estepes patagônicas como receita contra a dor

Passa hoje no Espaço de Cinema NASCIDO E CRIADO, o melhor filme da carreira de Pablo Trapero, diretor dos ótimos MUNDO GRÚA e EL BONAERENSE e do simpático FAMÍLIA RODANTE, exibido no Festival do Rio 2005.
Sozinho nas áridas planíces patagônicas, o protagonista reinventa sua vida como se tivesse sido nascido e criado ali. Sobrevive caçando coelhos e lutando contra sua mente que insiste em lembrá-lo que nem sempre sua vida foi assim. Um filme de extrema delicadeza que trata da dor da perda, dos embates contra a memória, da solidão. Trapero diz que a idéia surgiu quando nasceu seu filho e passou a conviver com fantasias assustadoras sobre a perda. Imperdível.

NASCIDO E CRIADO (NACIDO Y CRIADO)

De Pablo Trapero
(Argentina, 2006)
PREMIERE LATINA
Seg, 24/09 - Espaço de Cinema 2 - 19h15 (EC223)
Sex, 28/09 - São Luiz 3 - 16h30 (SL030)
Sex, 28/09 - São Luiz 3 - 21h30 (SL032)
Sáb, 29/09 - Cine Santa - 17h00

POR ANA LUIZA BERABA

Em plena felicidade por exibir A FLORESTA DOS LAMENTOS

O filme ganhou o Grande Prêmio em Cannes este ano e ainda não foi lançado comercialmente, portanto conseguir uma cópia para trazer ao Festival foi um trabalho árduo que durou alguns meses. Explicar aos produtores e distribuidores que todos os cariocas que há poucos anos assistiram Shara estavam sofrendo de grande ansiedade para assistir A Floresta dos Lamentos valeu a pena. O filme está aqui e será exibido hoje pela primeira vez no Festival do Rio.

A diretora japonesa Naomi Kawase tem 39 anos e fez vários documentários geniais e um filme de ficção (Hotaru) superpremiado, antes de realizar sua obra-prima Shara. Ela já foi homenageada com uma retrospectiva no Festival de Locarno e duas vezes indicada para a Palma de Ouro em Cannes. Não existem dúvidas de que o cinema de Naomi seja um dos mais importantes da contemporaneidade.

Se eu fosse você, saía correndo para pegar as chaises longs do Laura Alvin, porque certamente A Floresta dos Lamentos é um filme mágico, que merece ser contemplado com a maior tranqüilidade e conforto possível!

FLORESTA DOS LAMENTOS (The Mourning Forest)
De Naomi Kawase
(Japão, 2007)
PANORAMA
Seg, 24/09 - Estação L. Alvim 1 - 18h (LA018)
Seg, 24/09 - Estação L. Alvim 1 - 19h50 (LA019)
Sáb, 29/09 - Espaço de Cinema 2 - 14h30 (EC251)
Sáb, 29/09 - Espaço de Cinema 2 - 21h30 (EC254)

POR TATIANA LEITE

REGGAE, UM ESTILO DE VIDA


Bogle, um astro jamaicano, é baleado na rua. Trágico e cotidiano, este evento serve como ponto de partida para se desvendar todo o movimento do reggae. MADE IN JAMAICA remonta ao nascimento do gênero musical na Jamaica, nos anos 70, quando pela primeira vez um país do terceiro mundo teve sua voz ouvida em tão larga escala. Ao lado de músicos consagrados como Bunny Wailer e Toots, que insistem na pureza do chamado roots reggae, o filme apresenta uma segunda geração de artistas, com um novo estilo, o dancehall, que já atrai multidões em todo o mundo. Naturalmente influenciado pelo gênero que o precedeu, o dancehall contem a mesma essência religiosa, mas, como o rap, suas letras tratam de sexo, violência e política, principalmente os direitos das mulheres. Ao longo das entrevistas, percebe-se a luta dos músicos para sair de seu gueto nativo e alcançar a fama internacional.

Além dos depoimentos, o filme traz performances clássicas e gravações inéditas, deixando transparecer todo o espírito do movimento jamaicano – que cativou inclusive o próprio diretor do filme. Nascido na França, Jérôme Laperrousaz vem de uma premiada carreira como diretor de comerciais e curtas-metragens, tendo surpreendentemente pouca relação com a Jamaica até antes do filme. “A Jamaica é uma nação com apenas três milhões de pessoas, e ainda assim sua música pode ser ouvida em todos os recantos do mundo. Do ponto de vista criativo, é uma superpotência. Com esse filme, quis mostrar o porquê” – explica o diretor.

MADE IN JAMAICA
De Jérôme Laperrousaz
(França, 2006)
DOX
Seg, 24/09 - Estação Botafogo 3 - 14h45 (EB320)
Seg, 24/09 - Estação Botafogo 3 - 21h30 (EB323)

domingo, 23 de setembro de 2007

DO VERMELHO AO DOURADO...

Formado na Academia de Cinema de Pequim, Zhang Yimou é o maior expoente da chamada Quinta Geração do cinema chinês. Esta Geração, formada por diretores cinéfilos, emergiu nos anos oitenta de uma China em grave crise econômica. Sofrendo desde seus primeiros filmes forte repressão do Estado Chinês, foi acolhida por público e critica internacional. O SORGO VERMELHO, primeiro longa de Yimou - Urso de Ouro em Berlin -, foi um dos filmes que permitiram que o talento dessa Geração fosse propagado nos quatro cantos do mundo, e atraiu investidores estrangeiros que financiaram suas produções subseqüentes. ESPOSAS E CONCUBINAS, LANTERNAS VERMELHAS e A HISTORIA DE QIU JIU foram filmes que trouxeram a Zhang enorme reconhecimento internacional e que também lançaram a atriz Gong Li, uma das musas do cinema contemporâneo.

A partir de um determinado ponto, Yimou passou a fazer filmes mais melosos ou edificantes, para finalmente engatar em superproduções como O CLÃ DAS ADAGAS VOADORAS, que esteticamente são belíssimos e que criaram um novo gênero no cinema chinês, mas que não deixam de anunciar a busca por um cinema mais comercial. Sua mais recente superprodução, A MALDIÇÃO DA FLOR DOURADA é um dos destaques do Foco China, país merecidamente homenageado no Festival do Rio este ano. Como não poderia deixar de ser, o filme é garantia de prazer estético para qualquer espectador!

A MALDIÇÃO DA FLOR DOURADA (Curse of the golden flower)
De Zhang Yimou
(China, 2006)
FOCO CHINA
Ter, 25/09 - Leblon 1 - 16h30 (LB018)
Ter, 25/09 - Leblon 1 - 22h (LB020)

POR TATIANA LEITE

ALÉM DE TUDO

Adrian Belic nasceu e cresceu nos Estados Unidos, numa casa onde o pai falava servo-croata e a mãe, tcheco. Ele e o irmão, Roko, só foram aprender inglês ao entrar na escola. Aos nove anos, começou a fazer filmes com o irmão e o amigo Christopher Nolan (o mesmo do BATMAN e MEMENTO). Diz ele que, ao ver Guerra nas Estrelas com sete anos de idade, soube que o que queria na vida era fazer cinema. Adrian e Roko fizeram seu primeiro filme profissional, GENGHIS BLUES, ao terminarem o colégio. Este documentário, sobre músicos singulares de um país do qual ninguém nunca tinha ouvido falar - Tuva - nas montanhas no norte da Mongólia, correu mundo arrebatando prêmios até ser nomeado para o Oscar de Melhor Documentário em 2000. Numa das muitas exibições do filme, apareceu um médico ex-militar, Ed Artis, que começou a contar histórias tão incríveis que os irmãos marcaram uma entrevista com ele. O que era para ser uma conversa de meia-hora durou seis horas e meia. Quando finalmente o médico foi embora, os irmãos concluíram que se a metade do que ele dizia fosse verdade, teriam o próximo filme.

No dia seguinte foram procurados por Dr. James Laws, corroborando a história que viria a ser ALÉM DO DEVER. Depois do sucesso de GENGHIS BLUES, Adrian achou que fazer o segundo filme seria mais fácil, mas não era bem assim. Os primeiros dois anos foram financiados por empréstimos pessoais, enquanto Adrian correu mundo atrás dos Knightsbridge International – três ex-militares sessentões numa missão que reunia elementos de Madre Teresa de Calcutá com Indiana Jones. Ajuda humanitária sim, mas só com aventura. Dizem os três cavaleiros que eles não se metem em política, não são evangélicos e são independentes de qualquer ajuda externa. No entanto, eles aparecem no filme atravessando rios e montanhas, levando caminhões de remédios, comida e barracas para os lugares mais distantes da terra – Afeganistão, Burma, Filipinas. Diz Adrian que um dos aspectos mais interessantes de ALÉM DO DEVER é que o filme é bem recebido tanto por jovens quanto por associações de terceira idade, Rotary clube, militares ou universitários. Os militantes de esquerda se espantam ao ver ex-militares aposentados fazendo coisas que eles sonham mas nunca tiveram coragem de fazer. Nesse sentido, o filme vai criando pontes e funciona como inspiração especial para as ONGs e organizações de voluntariado.

Quem vê Adrian Belic circulando pelo Festival do Rio se encanta com o seu bigode singular, inspirado nos músicos de Genghis Blues, e nos brinquedos que traz consigo. Criança, gostava muito de brincar com os bonecos de ação inspirados nos filmes de Guerra nas Estrelas e Indiana Jones. Ao procurar algo para promover a estréia de ALÉM DO DEVER em Nova Iorque , Adrian convidou um amigo cinegrafista para criar três bonecos com as feições do Ed Artis, James Laws e Walt Ratterman, os três heróis-personagens do documentário. Aonde vai, Adrian leva os bonecos, que acharam uma casa temporária numa vitrine exposta na Tenda do Festival do Rio em Copacabana.

Adrian Belic fica no Rio até o final do Festival e se dispõe a falar sobre o seu filme para grupos ou organizações interessados.
Contato: wadirum1@aol.com

ALÉM DO DEVER (Beyond the Call)
De Adrian Belic
(EUA, 2006)
FRONTEIRAS
Seg, 24/09 - Caixa Cultural 1 - 16h30
Ter, 25/09 - Estação Botafogo 3 -12h30 (EB325)
Ter, 25/09 - Estação Botafogo 3 - 19h15 (EB328)

POR VIK BIRKBECK

EVO MORALES BEM DE PERTO

COCALERO é um registro minucioso dos últimos meses da campanha política de Evo Morales, período em que o candidato percorreu toda a Bolívia – sempre de jeans e tênis – angariando os votos que o transformariam no primeiro presidente indígena da história do país. O documentário também desvenda o funcionamento da organização sindical por traz de Evo, através da figura central de Leonilda Zurita, líder dos chamados “cocaleros”.
Mas este filme não é apenas sobre a recente reviravolta boliviana, e sim um retrato histórico de toda a América Latina, com suas culturas marcadas por tensão e descrença, conforme explica o diretor Alejandro Landes: “Evo é a síntese da mestiçagem da região - um índio aymará que virou sindicalista para defender o cultivo da coca ante a política norte-americana, gerando uma onda nacionalista que o levou à condição de salvador”.
Além disso, qualquer semelhança com Entreatos, de João Moreira Salles, e Peões, de Eduardo Coutinho, não será mera coincidência: Landes – que nasceu no Brasil, mas com apenas um ano mudou-se com os pais para o Equador – diz ter se inspirado fortemente nas obras dos cineastas brasileiros para realizar este que é seu primeiro filme. “O Evo é um sindicalista, como Lula; há uma parte do filme com a temática indígena, mas o coração da história é o sindicato dos plantadores de coca, o que remete a Peões. Por outro lado, COCALERO apresenta um Evo muito íntimo, muito de perto, como se pode ver em Entreatos. Quero levar o filme ao Brasil e mostrá-lo para o João e para o Coutinho”.

COCALERO
De Alejandro Landes
(EUA, 2006)
DOC LATINOS
Dom, 23/09 - Espaço de Cinema 2 - 14h45 (EC215)
Dom, 23/09 - Espaço de Cinema 2 - 21h45 (EC218)
Seg, 24/09 - Caixa Cultural 1 - 19h00
Qua, 26/09 - Caixa Cultural 1 - 16h30
Qua, 03/10 - Cine Santa - 17h00

ÚLTIMA CHANCE DE CAMINHAR PARA A VIDA!

Neste domingo, 23/09, às 16:00 no Ciné Glória, (Memorial Getulio Vargas) é a última chance de ver um delicado documentário que adentra ao mundo sofrido das mulheres etíopes camponesas. Diferente do interior do Brasil, com sua forte cultura de parteiras para assistir os partos dos mais pobres, a Etiópia apresenta um índice alarmante de mulheres que sofrem danos físicos com o parto. Como as mulheres na quase totalidade de países em desenvolvimento, às etíopes cabe todo o trabalho pesado de buscar água, lenha... As meninas carregam pesos imensos desde a mais tenra idade e ainda são casadas aos dez ou doze anos de idade. Ao engravidar, muitas vezes a pequena estatura delas não agüenta o parto. Além do sofrimento de perder o neném, muitas ficam incontinentes. Em seguida são rejeitadas pela família e pela comunidade, que acreditam que elas estão amaldiçoadas.

Em 1974 um casal de ginecologistas ingleses, trabalhando na Etiópia desde 1959, criou o Fistula Hospital em Addis Abeba, especializado em tratar dessas mulheres. Desde então realizam aproximadamente 1500 cirurgias reparativas por ano. Mary Olive Smith - que está no Rio para apresentar o seu filme! - leu uma reportagem sobre o hospital no New York Times e começou uma pesquisa que a levou até o interior da Etiópia em busca de mulheres que procuravam tratamento. Além das duas mulheres escolhidas pela sua equipe no próprio hospital, ela achou mais três, que foram acompanhadas no longo caminho por um país com poucas estradas e transporte público precário. Uma dessas meninas tinha aguardado seis anos no ponto de ônibus para conseguir a quantia (aproximadamente R$ 40) necessária para a viagem. Uma vez que chegam ao hospital, as mulheres encontram não somente o atendimento médico de que tanto precisam, mas uma comunidade calorosa que sofre dos mesmos problemas, num ambiente limpo e tranqüilo, propicio à recuperação.

Surpreendente no filme é a candura com que elas contam as suas histórias e a intimidade que atravessa as barreiras de língua e cultura. Como diz a diretora: "As questões de gravidez e parto são tão universais que a comunicação é fácil, e no caso dessas mulheres o isolamento e a rejeição que sofreram foram tão extremos que elas ficam felizes apenas com a possibilidade de serem ouvidas. Também o ambiente do hospital já é tão diferente para elas, que nós (a equipe) com nossas máquinas, éramos apenas mais um elemento dessa estranheza". A possibilidade de voltar à vida também levou a um questionamento para três das cinco heroínas do filme, que, depois da cura, não quiseram retornar às mesmas condições de opressão.

CAMINHANDO PARA A VIDA, além da bela trilha sonora etíope, é uma chance única de conhecer essa outra realidade.

POR VIK BIRKBECK

sábado, 22 de setembro de 2007

DIRETO DE HAVANA

Em 1999, na primeira edição do Festival do Rio, entrei por acaso numa sessão de um filme cubano chamado LA VIDA ES SILBAR. Saí do Estação Botafogo extasiada pelas imagens de arquivo do grande pianista Bola de Nieve e de Benny Moré, que funcionavam como consciência de personagens peculiares na Havana do fim do século. Pessoas desmaiando ao ouvir palavras tabus como sexo e burocracia, buscas por Cubas desaparecidas pelo tempo, promessas quebradas por juras de amor. LA VIDA ES SILBAR apontava um novo caminho no cinema cubano, crítico porém extremamente afetivo e delicado. Esse estilo foi reforçado pelo delicioso SUITE HAVANA (ou SWEET HAVANA?), exibido no Festival do Rio de 2004. Foi, portanto, com imensa expectativa que esperamos esse MADRIGAL, que será exibido hoje às 21:45 na sala 2 do Espaço.

Fernando Pérez, o diretor, está aqui. Deixou maturando um projeto sobre José Martí, herói da independência cubana, que será filmado em dezembro e desembarcou no Rio para nos apresentar Madrigal, "um filme deliberadamente artificioso, estranho, que não parece um filme cubano", nas palavras do próprio. O filme estreou no Festival de Berlim provocando polêmica. Para o diretor, é um filme "para se amar ou se odiar intensamente".

Esperamos vocês para compartilhar conosco o privilégio dessa sessão.

MADRIGAL
De Fernando Pérez
(Cuba / Espanha)
22/09 - 14:45 - Espaço de Cinema 2
22/09 - 21:45 - Espaço de Cinema 2
24/09 - 15:30 - Estação Ipanema 1
24/09 - 20:00 - Estação Ipanema 1
28/09 - 19:15 - Cine Santa

POR ANA LUIZA BERABA

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

DICAS DESTA SEXTA-FEIRA, 21/09

Entre Tarantinos, Chabrols e Park Chan Wooks (OBS: ainda não vendido para o Brasil), alguns filmes merecem a atenção dos espectadores.
Vivendo no medo. No primeiro longa-metragem do diretor Bui Thac Chuyen, o personagem principal, Tai, vive de desarmar bombas dos campos do Vietnã pós-guerra para vendê-las a fim de sustentar suas duas famílias. Uma comedia de humor negro, que aborda a temática da guerra com muita leveza e de forma bastante inovadora.
Síndromes e um século. Os fans do diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul, que teve seus filmes anteriores (Blissfully Yours e Tropical Malady) exibidos em prévias edições do Festival, vão ficar deliciados. Apitchatpong brinca com as noções de memória, do amor... Cada cena do filme retrata com beleza imagens de lugares frugais. O filme é hipnótico e imperdível.
Não percam também o bizarro e anárquico As bonecas safadas de Dasepo e o exuberante Sonhos de deserto.

VIVENDO NO MEDO
Living in Fear
De Bui Thac Chuyen
EXPECTATIVA
Sex, 21/09 - Est Barra Point 1 - 14h15 (BP101)
Sex, 21/09 - Est Barra Point 1 - 18h45 (BP103)
Sáb, 22/09 - Espaço de Cinema 3 - 12h15 (EC308)
Sáb, 22/09 - Espaço de Cinema 3 - 20h00 (EC312)

SÍNDROMES E UM SÉCULO
Syndromes and a Century
De Apichatpong Weerasethakul
PANORAMA
Sex, 21/09 - Estação Ipanema 2 - 22h00 (IP205)
Sáb, 22/09 - Est Barra Point 2 - 16h45 (BP206)
Dom, 23/09 - Espaço de Cinema 1 - 14h30 (EC114)
Dom, 23/09 - Espaço de Cinema 1 - 19h00 (EC116)

AS BONECAS SAFADAS DE DASEPO
Dasepo Naughty Girls
De Lee Jae-yong
LONAS CULTURAIS
Sex, 21/09 - Espaço de Cinema 1 - 23h30 (EC106)
Dom, 23/09 - Palacio 2 - 14h00 (PL209)
Dom, 23/09 - Palacio 2 - 19h00 (PL211)

SONHOS DE DESERTO
Desert Dreams
De Zhang Lu
EXPECTATIVA
Sex, 21/09 - Estação L. Alvim 1 - 17h45 (LA003)
Dom, 23/09 - Espaço de Cinema 3 - 13h30 (EC316)
Dom, 23/09 - Espaço de Cinema 3 - 21h30 (EC320)
Seg, 24/09 - Est Barra Point 1 - 18h45 (BP115)

POR TATIANA LEITE

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

CUBA LIVRE

O diretor cubano Fernando Pérez é uma figura particular dentro do cinema daquele país. Tendo começado como telegrafista do jornal diário do ICAIC (Instituto Cubano de Arte e Indústria cinematográfica), ele hoje ostenta rara liberdade para filmar praticamente tudo o que quer dentro da Ilha. E embora lance mão deste privilégio, mostrando-se crítico em relação ao regime comunista, o diretor também deixa transparecer em sua obra a afetuosidade e o saudosismo que sente pelo país – e pelos ideais – que nunca abandonou.
Foi assim com Suite Havana – premiado em San Sebastián, Havana e Gramado em 2003 –, que antecede a Madrigal. Porém, neste novo filme, as linhas temática e, principalmente, formal parecem ter sofrido certo rompimento, segundo o próprio diretor. “Se o público vinha de uma expectativa cômoda, esperando uma seqüência, Madrigal será no mínimo desconcertante, porque é totalmente oposto a Suite Havana, indo muito além na busca que sempre fiz por uma linguagem deliberadamente artificia” – diz Pérez, referindo-se a filmes mais antigos como Madagascar, de 1998, e Viver é assobiar, de 1994.
Madrigal é dedicado ao diretor francês René Clair, cujo filme As grandes manobras (1955) foi de grande importância para Pérez. “Uma vez li que Clair teve de mudar o final de seu filme porque os produtores acharam que o público não iria gostar. Então a idéia por trás de Madrigal foi recriar uma trama bastante similar à de As grandes manobras, mas com o final original de Clair” – explica o cubano.
Para um diretor que consegue trabalhar mesmo sob uma ditadura, o fato de um colega ter tido o filme censurado parece especialmente ultrajante. “Tanto no cinema como na vida, meu princípio é não seguir um só caminho; transito por zonas às vezes inseguras, com o afã de ser original. Quem é o (protagonista do filme) Javier e qual o seu objetivo ao transformar tudo em literatura? Acho que Madrigal fala de algo comum a muitos criadores, que fazem da própria vida fonte de inspiração”.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

A LENTE NEGRA DE STANLEY NELSON

A Mostra Stanley Nelson presta uma homenagem a este americano que, aos 52 anos, é um dos maiores nomes do documentário em atividade no mundo. Como diretor e produtor, seus filmes já conquistaram praticamente todos os prêmios da categoria, com destaque para O assassinato de Emmett Till, de 2003, que lhe valeu, entre outros, o Prêmio George Foster Peabody, maior honraria do jornalismo televisivo. Em 2004, Nelson ainda ganharia o Prêmio CINE Leadership, pelo conjunto da obra. Ao lado da esposa – Marcia Smith, roteirista da maioria de seus filmes –, ele é co-fundador da Firelight Media, em Nova York, organização sem fins lucrativos dedicada ao registro de pessoas, lugares e culturas que não são representados pela grande mídia.

Stanley vem ao Festival para a exibição de A imprensa negra americana: um combate sem tréguas, que será seguida pelo debate:
A IMAGEM NO ESPELHO: A IMPRENSA NEGRA E O NEGRO NA IMPRENSA
Além do diretor do filme, o evento contará com a presença de:
– Angélica Basthi, membro da COJIRA - Comissão de Jornalistas para Igualdade Racial do Sindicato dos Jornalistas do RJ e Assessora de Imprensa da ONG Justiça Global;
– Julio Tavares, professor de Pós-graduação em Antropologia da UFF.
SEX, 28/09 – 18H30 – C.C. JUSTIÇA FEDERAL

FILMES DIRETO DA ORELHA

A POCKET FILMS é o reconhecimento, pelo Festival do Rio, da importância da produção cinematográfica feita através da telefonia celular.
Estes filmes – todos inéditos no Brasil – possuem, para além da diversidade temática, uma estética extremamente particular, que os destaca não apenas entre as inúmeras atrações do Festival, mas também dentro de toda a história do cinema. Afinal, pelo modo como foram concebidos, estes filmes simplesmente não existiriam há dez ou cinco anos. Mas não se trata, aqui, de uma tecnologia sofisticada ou de difícil acesso, ao contrário; essa nova geração de filmes se utiliza de um aparelho que a cada dia se torna mais popular. E, com isso tudo, também é curioso lembrar o fato aparentemente óbvio de que o telefone não perdeu sua função primordial – precisando, ainda, ser desligado durante as sessões.

A POCKET FILMS está dividida em três programas: o primeiro e o segundo trazem, respectivamente, os melhores curtas-metragens de 2006 e 2007, e o terceiro apresenta três filmes do francês Alain Fleischer, diretor da École du Fresnoy, centro de pesquisa em Multimídia onde os estudantes utilizam largamente o telefone celular. Para o professor, a telefonia celular com câmera questiona toda a imagem moderna desde a invenção da fotografia. “Pela primeira vez na comunicação universal, o veículo da voz é ao mesmo tempo o da imagem, sem que esta seja a sua função principal. Assim, podemos dizer que o celular é um objeto híbrido que produz uma imagem clandestina”.
E Alain ainda vai mais longe: “Como o celular possui uma face para a voz e outra para a imagem, ele não filma o que eu vejo, mas o que está à minha esquerda ou direita – de algum modo, é a orelha que faz o enquadramento! É preciso que eu me vire para filmar o que ouvi, o que leva algum tempo e gera suspense. Se Hitchcock fosse vivo, tenho certeza de que ele faria um filme onde o celular fosse o principal objeto do mistério, ou até a arma do crime!”.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

NOVIDADE NO FRONT

NOTÍCIAS DO FRONT é o espaço interativo dentro do Festival do Rio dedicado exclusivamente àquelas "jóias raras" que o grande público ainda precisa descobrir. São filmes aparentemente pequenos, mas que constituem a própria essência de todo o Festival, que o colocam numa posição conceituada entre os maiores eventos de cinema no mundo. Atualizado pela Coordenação Internacional do Festival do Rio, NOTÍCIAS DO FRONT pela primeira vez vai oferecer ao público informações detalhadas sobre os filmes internacionais, trazendo ainda destaques particulares dentro da vasta programação do Festival, incluindo debates, entrevistas e oficinas.Você também participa enviando dicas de filmes e sugestões para os próximos anos. Manifeste-se: a sessão já vai começar.