terça-feira, 18 de setembro de 2007

FILMES DIRETO DA ORELHA

A POCKET FILMS é o reconhecimento, pelo Festival do Rio, da importância da produção cinematográfica feita através da telefonia celular.
Estes filmes – todos inéditos no Brasil – possuem, para além da diversidade temática, uma estética extremamente particular, que os destaca não apenas entre as inúmeras atrações do Festival, mas também dentro de toda a história do cinema. Afinal, pelo modo como foram concebidos, estes filmes simplesmente não existiriam há dez ou cinco anos. Mas não se trata, aqui, de uma tecnologia sofisticada ou de difícil acesso, ao contrário; essa nova geração de filmes se utiliza de um aparelho que a cada dia se torna mais popular. E, com isso tudo, também é curioso lembrar o fato aparentemente óbvio de que o telefone não perdeu sua função primordial – precisando, ainda, ser desligado durante as sessões.

A POCKET FILMS está dividida em três programas: o primeiro e o segundo trazem, respectivamente, os melhores curtas-metragens de 2006 e 2007, e o terceiro apresenta três filmes do francês Alain Fleischer, diretor da École du Fresnoy, centro de pesquisa em Multimídia onde os estudantes utilizam largamente o telefone celular. Para o professor, a telefonia celular com câmera questiona toda a imagem moderna desde a invenção da fotografia. “Pela primeira vez na comunicação universal, o veículo da voz é ao mesmo tempo o da imagem, sem que esta seja a sua função principal. Assim, podemos dizer que o celular é um objeto híbrido que produz uma imagem clandestina”.
E Alain ainda vai mais longe: “Como o celular possui uma face para a voz e outra para a imagem, ele não filma o que eu vejo, mas o que está à minha esquerda ou direita – de algum modo, é a orelha que faz o enquadramento! É preciso que eu me vire para filmar o que ouvi, o que leva algum tempo e gera suspense. Se Hitchcock fosse vivo, tenho certeza de que ele faria um filme onde o celular fosse o principal objeto do mistério, ou até a arma do crime!”.

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