domingo, 23 de setembro de 2007

ÚLTIMA CHANCE DE CAMINHAR PARA A VIDA!

Neste domingo, 23/09, às 16:00 no Ciné Glória, (Memorial Getulio Vargas) é a última chance de ver um delicado documentário que adentra ao mundo sofrido das mulheres etíopes camponesas. Diferente do interior do Brasil, com sua forte cultura de parteiras para assistir os partos dos mais pobres, a Etiópia apresenta um índice alarmante de mulheres que sofrem danos físicos com o parto. Como as mulheres na quase totalidade de países em desenvolvimento, às etíopes cabe todo o trabalho pesado de buscar água, lenha... As meninas carregam pesos imensos desde a mais tenra idade e ainda são casadas aos dez ou doze anos de idade. Ao engravidar, muitas vezes a pequena estatura delas não agüenta o parto. Além do sofrimento de perder o neném, muitas ficam incontinentes. Em seguida são rejeitadas pela família e pela comunidade, que acreditam que elas estão amaldiçoadas.

Em 1974 um casal de ginecologistas ingleses, trabalhando na Etiópia desde 1959, criou o Fistula Hospital em Addis Abeba, especializado em tratar dessas mulheres. Desde então realizam aproximadamente 1500 cirurgias reparativas por ano. Mary Olive Smith - que está no Rio para apresentar o seu filme! - leu uma reportagem sobre o hospital no New York Times e começou uma pesquisa que a levou até o interior da Etiópia em busca de mulheres que procuravam tratamento. Além das duas mulheres escolhidas pela sua equipe no próprio hospital, ela achou mais três, que foram acompanhadas no longo caminho por um país com poucas estradas e transporte público precário. Uma dessas meninas tinha aguardado seis anos no ponto de ônibus para conseguir a quantia (aproximadamente R$ 40) necessária para a viagem. Uma vez que chegam ao hospital, as mulheres encontram não somente o atendimento médico de que tanto precisam, mas uma comunidade calorosa que sofre dos mesmos problemas, num ambiente limpo e tranqüilo, propicio à recuperação.

Surpreendente no filme é a candura com que elas contam as suas histórias e a intimidade que atravessa as barreiras de língua e cultura. Como diz a diretora: "As questões de gravidez e parto são tão universais que a comunicação é fácil, e no caso dessas mulheres o isolamento e a rejeição que sofreram foram tão extremos que elas ficam felizes apenas com a possibilidade de serem ouvidas. Também o ambiente do hospital já é tão diferente para elas, que nós (a equipe) com nossas máquinas, éramos apenas mais um elemento dessa estranheza". A possibilidade de voltar à vida também levou a um questionamento para três das cinco heroínas do filme, que, depois da cura, não quiseram retornar às mesmas condições de opressão.

CAMINHANDO PARA A VIDA, além da bela trilha sonora etíope, é uma chance única de conhecer essa outra realidade.

POR VIK BIRKBECK

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