As mostras Fronteiras e Dox trazem três filmes especialmente impactantes, com temas similares, tão relevantes quanto indigestos. São filmes para refletir sobre a democracia européia e sua atual política de controle da imigração. Estamos falando de BEM-VINDO À EUROPA, do francês Bruno Ulmer, exibido no Festival de Sundance deste ano; NÃO SE PODE EMBRULHAR BRASA COM PAPEL, cujo diretor cambojano Rithy Panh, aos 11 anos de idade, foi colocado num campo de trabalhos forçados, de onde conseguiu escapar; e MULHERES SEM PIEDADE, do alemão Lukas Roegler - que faz sua estréia mundial aqui, com a presença do diretor e debate no CCJF.
MULHERES SEM PIEDADE (acima) tem suas últimas exibições neste fim de semana. O documentário trata de nigerianas marginalizadas cujo sonho de um futuro melhor desmorona-se rapidamente no pesadelo da prostituição pelas ruas européias. Recrutadas em sua maioria de um pequeno povoado da periferia de Benin, essas meninas, ainda antes de se tornarem escravas sexuais, passam por um ritual oculto de nome “juju”, que vai contra a religiosidade africana. Ao chegarem à Europa, as nigerianas descobrem que terão de arcar com passagem se quiserem retornar à Nigéria, o que as deixa eternamente dependentes das traficantes, chamadas “Madams”. As cafetinas fazem deste comércio escravo o único crime organizado em escala global exclusivamente controlado por mulheres. O diretor Lukas Roegler, formado em ciência política, trabalha como jornalista investigativo, e este é o seu primeiro filme. É também a primeira vez que as câmeras registram esta nova e brutal relação entre as cidades de Benin e, principalmente, Turin (Itália), onde as nigerianas representam atualmente quase 60% das prostituas locais.
BEM-VINDO À EUROPA (à direita) nos apresenta a oito jovens de origens curda, marroquina e romena que vão tentar construir uma vida clandestina em cidades como Paris, Amsterdã e Madri. São homens que tiveram de deixar seus países por desavenças políticas ou atraídos pela possibilidade de, à distância, sustentar suas famílias. Porém, uma vez que desembarcam na Europa, os imigrantes se surpreendem ainda no submundo – morando em carros, dormindo em caixas e fugindo da polícia para muitas vezes cair no abismo das drogas e da prostituição. O diretor Bruno Ulmer optou pelo superclose e fotografia luminosa, o que fez o foco nos entrevistados preponderar sobre o mundo à sua volta. “A imigração clandestina é um desafio primeiro porque há que se filmar em esconderijos sem luz. Além disso, era preciso registrar bem as vozes, mas a prostituição é um tema difícil de os homens falarem. Para conseguir testemunhos sinceros e sem ruídos, mantive conversas cara a cara em ambientes sem adornos onde suas vozes fossem o único destaque” – conta o diretor.
As meninas cambojanas de NÃO SE PODE EMBRULHAR BRASA COM PAPEL (à esquerda) são seduzidas ainda virgens e pouco mais que crianças, embarcando no caminho sem volta da exploração sexual. As expressões de dor e sofrimento estampadas em seus rostos falam mais alto do que as histórias que contam no filme. O diretor Rithy Panh consegue compartilhar da intimidade das entrevistadas com comovente delicadeza; para ele, a prostituição é uma “morte espiritual”. De fato, a história do próprio Rithy Panh daria um filme tão impressionante quanto este que realizou. Após dois anos num campo de trabalhos forçado do Camboja, Rithy conseguiu fugir para a França, onde se formou em cinema pelo IDHEC. Sua primeira obra de ficção, Neak Srê, de 1994, foi apresentada na Competição Oficial de Cannes.
MULHERES SEM PIEDADE (SISTERS OF NO MERCY)
De Lukas Roegler
(Alemanha, 2006)
FRONTEIRAS
Sáb, 29/09 - Estação Botafogo 3 - 19h15 (EB352)
Dom, 30/09 - C.C. Justiça Federal - 18h30 *
* A sessão será seguida pelo debate
Que tu tenhas teu corpo: tráfico humano e escravidão sexual
Com a presença do diretor do filme e dos convidados:
- Gabriela Leite, presidente da ONG Davida;
- Lucia Xavier, da ONG CRIOLA.
PAPEL NÃO EMBRULHA BRASAS (LE PAPIER NE PEUT PAS ENVELOPPER LA BRAISE)
De Rithy Panh
(França, 2006)
DOX
Qua, 03/10 - Estação Ipanema 1 - 15h30 (IP162)
Qua, 03/10 - Estação Ipanema 1 - 19h45 (IP164)
Qui, 04/10 - Estação Botafogo 3 - 14h45 (EB380)
Qui, 04/10 - Estação Botafogo 3 - 21h30 (EB383)
BEM-VINDO À EUROPA (WELCOME EUROPA)
De Bruno Ulmer
(França, 2006)
FRONTEIRAS
Qua, 03/10 - Estação L. Alvim 1 - 14h00 (LA061)
Qua, 03/10 - Estação L. Alvim 1 - 20h00 (LA064)
Qui, 04/10 - Estação Botafogo 3 - 12h30 (EB379)
Qui, 04/10 - Estação Botafogo 3 - 19h30 (EB382)
POR VIK BIRKBECK
sábado, 29 de setembro de 2007
Clandestinidade e escravidão na Europa
Postado por Hugo Naidin às 10:01
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Um comentário:
nao percebi nada do que esta aqui dito decertasforma acho que está um pouco confuso e que foge um pouco aotema pedido
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